DIÁLOGO NA TRIBUNA DO SENADO COM SENADORES PEDRO SIMON E ANA AMELIA
Pedro Simon destaca atuação de Itamar Franco
Em discurso no plenário, no dia 25 de março, o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que presidia a sessão, falou sobre o governo do então presidente Itamar Franco, do qual foi líder no Senado, e destacou a seriedade e a ética com as quais o senador mineiro sempre se conduziu na atividade política. A senadora Ana Amélia, (PP-RS), em aparte, tambem elogiou a trajetória política de Itamar e seu comprometimento com a seriedade na política e na administração pública.
Leia o pronunciamento:
PEDRO SIMON (PMDB-RS) – Eu não poderia, Senador Itamar Franco – embora, eventualmente, muito eventualmente, para o atual comando do MDB eu sou persona non grata – eu não poderia deixar de lembrar com muita alegria os tempos que nós passamos aqui, e a atuação de V. Exª há 16 anos como Senador desta Casa.
Eu tinha muito orgulho de V. Exª. V. Exª parou esta Casa. Naquela época podia. Hoje, não pode mais. Naquela época, a Minoria, em plena ditadura, podia influenciar os destinos desta Casa. Com V. Exª na Comissão da Política Nuclear, em pleno regime Geisel, em plena ditadura, a comissão funcionou. Funcionou, eles vieram aqui debater, expor, analisar e o relatório está aí até hoje para ser visto.
Eu quero dizer a V. Exª que tive muito orgulho em ser Líder do Governo de V. Exª. Tenho dito aqui, ao longo do tempo, que me digam se houve, no Governo de V. Exª, um ato que ferisse a dignidade, a seriedade, a honra com a coisa pública que teve a conivência de V. Exª?
Serve o caso do Chefe da Casa Civil, seu grande amigo até hoje, o Ministro Hargreaves, Chefe todo-poderoso da Casa Civil, convocado para depor – não indiciado; não tinha nada – na CPI dos Anões do Orçamento. Ele, primeiro, renunciou. Saiu do cargo de Ministro, não veio depor como Ministro. Em primeiro lugar, não fugiu de depor. Poder-se-ia facilmente mexer etc. e tal e ele não vir depor. Não! Veio depor e renunciou à Casa Civil. E só voltou para a Casa Civil quando, com um voto de louvor, a Comissão disse que ele não tinha absolutamente nada.
Eu me lembro de V. Exª quando escolheu uma ministra dos Transportes. Até lembro que eu brinquei com V. Exª, dizendo: “Qual o outro motivo da escolha, além de ela ser muito bonita?” Mas, na verdade, era uma indicação importante de segmentos do Rio de Janeiro. Ela foi nomeada. Quando V. Exª ficou sabendo que ela era esposa do advogado responsável pelo tráfego da Ponte Rio-Niterói, V. Exª demitiu-a pelo telefone.
Lembro que V. Exª criou uma comissão responsável por atos de corrupção que pudessem aparecer no Governo. V. Exª convocou homens notáveis, sem nenhum compromisso com o Governo, diretamente ligados a V. Exª. Essas pessoas tinham autonomia absoluta, e os ministros tinham que responder imediatamente, atender imediatamente à convocação da comissão. E aquela comissão produziu efeito, não apenas nos casos que investigou e denunciou, mas principalmente porque aquela comissão evitou que as coisas acontecessem. Eu me lembro do que foi a atuação de V. Exª nesse sentido.
O Plano Real, obra do Governo de V. Exª, foi feito com amplo debate nesta Casa. Nada foi imposto. Os ministros vieram várias e várias vezes aqui, e o plano foi alterado várias e várias vezes porque o Congresso propôs as alterações necessárias.
Eu digo, de boca cheia, eu desafio alguém que, no governo de V. Exª, tenha dito que qualquer medida que foi votada nesta Casa esteve ligada com emenda parlamentar ou integração de alguém para fazer parte do governo.
Olha, alguém ainda vai fazer justiça. Não de se preocupar com o topete de V. Exª nem com o seu estilo rígido exagerado. V. Exª para mim cometeu erros absurdos. O Fernando Henrique, Ministro das Relações Exteriores, me telefona: “Mas, Simon, fala com o Itamar, o Dr. Roberto Marinho está aqui no meu gabinete, veio para almoçar com ele, almoça no Palácio Piratini, almoça do Palácio da Alvorada, almoça aqui no Itamaraty, almoça em qualquer restaurante”. Itamar não almoçou e não recebeu. V. Exª foi duro com a imprensa. Eu me lembro que V. Exª reuniu – V. Exª propôs um Pacto de Moncloa – no Palácio da Alvorada, todos os presidentes de partidos e colocou uma espécie de uma linha em todo o seu ministério.
E V. Exª disse ali: eu sou Presidente não pela vontade popular. O Sr. Collor foi eleito pelo povo brasileiro, mas o Congresso Nacional, soberanamente, cassou o mandato dele. E eu estou na Presidência da República sob a responsabilidade do Congresso, que representa o povo. Portanto, eu quero governar com o Congresso, com a sociedade. E aí o senhor propunha a todos que participassem.
Naquela reunião, ficou estabelecido o seguinte – era bom ir para O Globo, para os jornais, porque apareceu como grande manchete: no meu governo, qualquer dos presidentes de partido que estiver aqui, qualquer problema que houver, qualquer caso sério em que a Nação esteja em primeiro lugar, convoque, me avise e peça, não precisa de dois, não; um presidente de partido, uma reunião como esta e nós faremos. E peço que os senhores me dem o direito, a licença de eu poder fazer a mesma coisa. Que eu, com relação a presidente de partido, se achar que há alguma crise em nível nacional, possa convocá-lo.
Graças a Deus, no governo de V. Exª, em nenhum momento, nenhum presidente de partido teve que pedir uma reunião de emergência em caso de urgência. E nem V. Exª teve que pedir uma reunião em caso de ação.
Até hoje eu não entendo o PT ter votado contra o Plano Real. Até hoje, não entendo a Ministra Erundina ter que se afastar do PT para ser Ministra, escolhida por V. Exª. Até hoje, não entendo o falecido Governador Quércia, presidente do MDB, não querer fazer a indicação importante que queríamos para uma pasta da maior importância. Mas ele, já pensando em ser candidato e querendo ser da oposição, não admitia isso. Eu tenho muito orgulho de V. Exª, digo isso num desabafo, porque acho que é minha obrigação. Tenho muito respeito por V. Exª.
V. Exª, cá entre nós, é muito complicado. V. Exª é meio ranzinza, é difícil, é duro, mas foi um grande Presidente, em termos de integridade, de seriedade, de honorabilidade. Eu tenho o maior respeito e a maior admiração por V. Exª.
ITAMAR FRANCO (PPS – MG) – Eu não posso dialogar com V. Exª, mas eu queria apenas dizer da alegria e por que não, do orgulho, quando tive V. Exª como meu Líder quando Presidente da República.
Acho que essas recordações que V. Exª traz à Casa, que já se perderam porque sempre há interesse de que sejam esquecidas ou analisadas, fico muito contente que partiram de V. Exª. Eu sempre tenho dito ao longo da minha vida e ao longo do nosso conhecimento quem é o Senador Pedro Simon. Lá em Minas Gerais, várias vezes, perguntam-me: e o Senador Pedro Simon? Aquele é um exemplo de ética, aquele é um exemplo de homem público, aquele é um exemplo que significa muito para o Senado da República e para o Brasil.
Foi uma honra, Exª, tê-lo tido aqui como meu Líder. Mas, sobretudo, nós sabemos, nós dois sabemos particularmente que o poder é fugaz. Enquanto há o poder, há aqueles que bajulam; quando se deixa o poder, e já estamos acostumados com isso, temos que voltar ao cidadão comum que todos nós somos.
Mas é importante, é importante sim, Exª, que V. Exª, com a sua personalidade, com a sua vida pública limpa, de vez em quando, recorde um governo muito difícil que foi o nosso, mas, sobretudo, nos permitiu passar a faixa presidencial num regime democrático. Quando a gente vê hoje o governo ficar perdendo seu centro de gravidade por causa de uma inflação de 5% ao ano, V. Exª vai se recordar – é a única coisa que não me canso de dizer aqui – de que tínhamos uma inflação de 4% ao dia.
Obrigado pela sua presença no nosso governo. E oxalá nunca os adversários escrevam as nossas biografias.
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ANA AMÉLIA (PP – RS) – Eu queria apenas assinar embaixo de tudo o que V. Exª disse a respeito de Itamar Franco. Ele, certamente, não gostou muito da decisão do Supremo. Não estou falando por ele, estou falando por mim, por conhecê-lo. Ele não precisa de uma lei dessa porque ele é ficha-limpa, pela integridade, pelo comprometimento com a ética, pela figura que é.
E a história pode não estar todo o dia lembrando esses fatos e esses comportamentos. O caso Hargreaves ficou como uma referência e um modelo de atitude ética na administração pública brasileira. E sempre que um caso análogo é malfeito, lembra-se do bom exemplo do caso Hargreaves, que passou a ser, para o Brasil, um modelo de ética na Administração Pública.
Fico muito feliz por esses registros, porque estou chegando agora a este Senado e, quando ouço e acompanho o posicionamento do Senador Itamar Franco, a gente sabe que pode recuperar o respeito e a admiração do povo brasileiro, uma vez que um homem como ele trata de resgatar a autoridade dentro desta Casa diante do massacre que a gente sofre com medidas provisórias e com o sufocamento da atividade parlamentar. Então, é muito importante.
E não é só aqui, mas também na Comissão Especial da Reforma Política e Eleitoral, onde ele tem tido um posicionamento da maior coragem e da maior coerência, coerência que falta a muitos líderes brasileiros, mas que nele sobra, a coragem dessa coerência.
Aqui, neste Senado, Itamar Franco empreendeu uma luta com os gaúchos, à época do Banco Sul Brasileiro, com relação à crise do Meridional. Ele, por convicção séria, pela preocupação com o dinheiro público, queria que a solução fosse pela preservação do interesse do patrimônio nacional.
Depois, num outro caso – lembro bem, como jornalista –, ele abriu as portas do seu gabinete, quando o Senador Antonio Carlos Magalhães atravessou a praça e foi lá, à sua moda, para fazer um enfrentamento do Banco Econômico e resolver tirar na marra…
Outro exemplo: abriu as portas e mostrou à imprensa como ia ser a conversa naquela hora em que o senador baiano dizia ter dados sobre corrupção em seu governo. São essas coisas que fazem com que me orgulhe muito, como Senadora que está chegando a esta Casa, de estar ao lado de um homem como Itamar Franco.
PEDRO SIMON ( PMDB – RS) – O Senador Antonio Carlos pediu uma reunião para levar ao Presidente Itamar Franco uma série de notícias, de escândalos que teriam no Governo do Itamar. Aí, o Itamar recebeu o Sr. Antonio Carlos. E recebeu com ele toda a imprensa. Uns 50 ou 60 membros da imprensa estavam ali presentes. E foram falando, conversando, conversando, conversando… E o tempo foi passando. Aí, o Senador Antonio Carlos perguntou: “Mas não vamos conversar, Presidente?” E o Presidente Itamar respondeu: “Claro, à sua disposição”. E o Senador Antonio Carlos perguntou: “Mas a imprensa vai ficar presente?” E o Presidente Itamar respondeu: “Por mim, não tem nenhum problema. V. Exª disse que tem várias denúncias. Eu acho que elas podem ser feitas abertamente para a imprensa ouvir. Agora, se V. Exª quiser que ela se retire e pedir para retirá-la, eu peço”. E então: “Não, não pode fazer nada…” E não tinha coisa nenhuma. Claro que o estilo do Antonio Carlos, que Deus o tenha, era um estilo inteligente: ele ia lá, falava com o Itamar, não ia dizer coisa nenhuma e, de volta com a imprensa, reunido com a imprensa, ia fazer um espalhafato. Esse era o estilo do Itamar.
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Excelentes as matérias postadas