Sempre vi a validade da criação da Comissão da Verdade com certo ceticismo, pois nunca acreditei nos objetivos que seriam atingidos. Revanchismo? História? Memória? O que, afinal??
No curso dos trabalhos vimos membros e em especial um Presidente da dita Comissão posando nos jornais com a empáfia de um tribuno romano procurando se postar como herói e disciplinador dos possíveis indiciados como torturadores. Mas, pecava de forma inquestionável quando se recusava em buscar os que do lado inverso cometeram crueldades. Isto nos leva a crer que aquele Órgão deveria ser renomeado para Comissão da Verdade sobre os Militares. Aí sim, não tem que cuidar dos militantes da ação armada contra o regime, que também praticaram crimes contra a humanidade, Mas isso não dá imprensa.
Agora, leio nos jornais e assisto nos telejornais da TV com grande repercussão a visita dos membros da Comissão ao quartel da PE no Rio de Janeiro, onde teria sido a sede do DOI-CODI ( órgão repressor ). Até aí tudo bem, quer ir conhecer onde poderia ter sido praticada a tortura de presos para confrontar as informações dos possíveis torturados que teriam indicado um mapa do local e chegar à verdade.
O problema, no entanto, é que pelas notícias, um grupo de parlamentares ( que não fazem parte da Comissão ) se dirigiam ao quartel em caminhada solene pelas ruas, assim como foi a postura dos 18 do Forte, historicamente conhecida, acompanhados de um grupo de manifestantes com bandeiras vermelhas e imprensa tirando toda e qualquer convicção de que se tratava de uma visita de investigação, comprovando, isto sim, de um espetáculo pirotécnico de interesses obscuros, e politicamente ineficazes..
E o que é mais interessante é desejar que os locais, dependências de um quartel se torne Memorial para visitação pública. Pelo amor de Deus, qual o interesse público de visitação de salas e alojamentos por onde teriam passado presos políticos? A não ser que haja uma encenação para reconstituir atos de torturas e aprisionamento ( de gosto muito duvidoso), pode ser que haja visitantes, mas para ver sala vazia ???
Me lembra, quando Secretário de Segurança do Governo de Minas Gerais, mandei reformar o prédio do DI ( Departamento de Investigações)para alojar presas( mulheres) que até então estavam ocupando celas nas Delegacias no mesmo ambiente das celas de presos(homens). Houve uma reação, inclusive por parte do Governador, em virtude de aquele prédio ter sido, anteriormente objeto de denuncias de práticas policiais condenáveis, o que lhe deu o nome de ” O inferno da Lagoinha”. Mas, contornei as resistências, mostrando o óbvio, que o problema não era do prédio mas das pessoas, e mais, se houve práticas condenáveis no local, agora seria redimido pelos procedimentos sadios de alojamento condigno que as instalações permitiam que se implantasse. O fato é que não poderíamos dispensar o uso de um prédio de ótima construção por questões emocionais, até mesmo justas que houvessem.
Pode-se alegar que a Casa de Ane Frank em Amsterdam é alvo de visitação turística. Sim, mas lá as pessoas têm curiosidade de saber por onde a menina cometeu as peripécias de esconderijo, as dificuldades que passava para se chegar a um sótão, enfim, algo que realmente aguça o raciocínio das pessoas. Mas algumas salas vazias, simplesmente onde estiveram pessoas presas??
Dessa forma, não vão chegar a nada em termos de história e se existe algum outro interesse nesse trabalho é bom que eles nos contem, a nós, que pelos tributos que pagamos, somos os patrocinadores.
Excelentes as matérias postadas