Estou me permitindo transcrever um belo artigo escrito por Marcelo Agner, postado no Correio Braziliense:
” Ecos de Santa Maria
A historia do roubo de carne num mercado de Santa Maria não é exatamente aquela contada pelo desempregado Mário Lima. Depois da comoção do país com o caso, descobriu-se que o eletricista tinha outras três ocorrências na polícia por furtos semelhantes. Ele nega os crimes. Mas é compreensível que muitos de nós fiquemos decepcionados. Mesmo assim, esse triste episódio da realidade brasileira deixará lembranças, lições e temas a serem debatidos.
O fato mais positivo, sem duvida, foi a solidariedade dos policiais de Santa maria. Nós nos acostumamos a enxergar nesses profissionais pessoas insensíveis, principalmente por tratarem diariamente com criminosos e espertalhões de toda espécie. Os agentes entenderam o drama de Mário Lima se comoveram com o homem que furtou carne para alimentar o filho e o ajudaram. Esse gesto desencadeou uma campanha de doações para o eletricista. Até oferta de emprego ele recebeu. De alguma forma, mesmo em momentos tão difíceis do país, o brasileiro mostra benevolência e vontade de colaborar. O caso expõe também a face da miséria no Brasil, escondida debaixo do tapete nos últimos anos pelas estatísticas oficiais e pela propaganda do crescimento da economia. O desemprego (ou o subemprego) nunca deixou de ser uma ameaça às camadas mais pobres da população. Mário Lima estava sem emprego formal havia pelo menos dois anos e sustentava a família com o dinheiro dos bicos.A crise econômica, a inflação, o fechamento dos postos de trabalho têm reflexo imediato nos mais pobres. A Bolsa Família, um instrumento social, não é capaz de garantir sozinha a dignidade dessa gente. Mário recebe R$ 70,00 valor insuficiente para alimentar dignamente a ele e ao filho.
Outro capítulo dessa historia precisa ser debatido com mais profundidade. O Estado tem presença pífia na vida do desempregado. Doente, a mulher dele que procurar ajuda em outra cidade para continuar o tratamento médico. A Previdência e a saúde pública estão sobrecarregadas. O filho de Mário, aos 12 anos, vai à escola, mas recebe muito pouco do sistema educacional. Talvez se estivesse no ensino integral, com alimentação garantida e mais assistência não preocuparia tanto o pai.
Mário Lima será punido por ter furtado carne no mercadinho. É um capítulo da vida que ele jamais vai esquecer. E o c aso também nos deixa marcas e a certeza de que precisamos ter um novo olhar sobre o país, mais humano, realista e exigente.”
É isso mesmo…
Excelentes as matérias postadas