O PAIS QUE QUEREMOS ( Paulo Silva Pinto)

Permito-me transcrever oportuno texto escrito pelo brilhante colunista Paulo Silva Pinto e publicado na pagina de Economia do Correio Braziliense da edição de hoje 16/04/2016:

“Vivemos uma situação terrível, misturada à expectati­va de que talvez o Brasil saia disso um país melhor. Até mesmo os governistas que têm poucas chances ama­nhã na Câmara dos Deputados, esperam que a atual gestão se reinvente caso o pedido de admissibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff seja derrubado e ela ganhe fôlego no Planalto.

E imensamente maior a chance de que o pedido passe e o vice-presidente Michel Temer comece logo a formar um novo gabinete ministerial para ser empossado antes da metade de maio.

Há uma discussão muito importante, porém, que precisa envolver mais gente, e sempre é deixada de lado: o Brasil que queremos ter. Faltou muito disso na campanha eleitoral de 2014. Governo e oposição evitaram fazer uma discussão séria

dos problemas para não desagradar ao eleitor. O re­sultado foi esse quadro ter­rível em que mergulhamos. É algo frequente em nossa história evitarmos encarar os problemas e enfrentar­mos uma situação ainda pior depois, por conta do adiamento. O debate só se­rá possível com serenida­de, portanto, será preciso, antes, superar o ódio que só cresce no país desde o momento em que as umas do segundo turno da elei­ção foram abertas.

Fazer o projeto desse Brasil dos sonhos é fácil: sem corrupção, sem polui­ção e sem violência, com educação e saúde gratuitas e universais, melhor infraestrutura, emprego e es­tabilidade do poder de compra e meio ambiente preservado. O crescimento econômico não é uma meta em si, é algo necessário para chegar a esse quadro ainda tão longínquo. A grande questão é a outra lista, a dos sacrifícios que estamos ou não dispostos a fazer. Crescer significa ter um monte de gente trabalhando mais, seja em numero de horas ou em eficiência, de preferência as duas coisas.

 Até aí, está tudo tran­quilo, está favorável. O problema é que, em geral, achamos que quem tem de se esforçar mais são os outros.

Estamos dispostos a trabalhar um período maior antes da aposentadoria para garantir o crescimento? Talvez não. Nesse caso, teremos de encarar um país mais pobre para nós e para nossos filhos e netos. 0 argumento de que o dinheiro pode so­brar se acabar com os desvios de dinheiro público não vale. Se a corrupção continuar nos níveis atuais, tudo será mais difícil. Mas, reduzida, os problemas não se resolvem.

Ouvir antes e falar depois

Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Universidade Esta­dual de Campinas (Unicamp) e um dos maiores economistas heterodoxos do mundo, faz uma crítica muito consistente aos colegas ortodoxos. “Eles acham que o pessoal dos sindicatos, das ruas, tem de entender que a reforma da Previdência é in­dispensável. Talvez estejam certos. Mas isso tem de ser de­monstrado às pessoas’ Não adianta economistas acharem que é um absurdo não saberem.”

É preciso, portanto, discussão, humildade e aprendizado de todos os lados. Talvez a escolha do país seja continuar se aposentando cedo. Para um amigo, o sonho da aposentadoria é um valor forte para os brasileiros. Todo mundo começa a trabalhar pensando no dia em que vai parar. É algo, portanto, tão forte quanto o sonho americano. Nos Estados Unidos, quase todo mundo quer carro novo, casa própria com quintal grande e filhos com diploma universitário. A certeza é de que será necessário ralar muito para conseguir isso.

Escolhas

Se o Estado tiver de financiar as aposentadorias, como já  faz hoje, não podemos esperar que faça as outras coisas, ou pelo menos não todas elas. Temos dificuldade de aceitar essa limita­ção. Isso é causa de outra de nossas mazelas: a inflação. Duas décadas depois do Plano Real, nossa taxa ainda é muito alta pa­ra padrões mundiais. Uma das razões disso é que o governo gasta mais do que arrecada. Para que a carestia não seja ainda mais terrível do que já é, temos de encarar juros muito acima do que se vê em outros países. Se quisermos que as empresas paguem menos pelo crédito, e assim façam investimentos, te­mos de aceitar gastos públicos inferiores aos atuais.

Ser cético quanto às chances de essa discussão prosperar é justo. Mais difícil ainda é que ela possa influenciar o novo go­verno que está em vias de se formar. Mas o debate precisa co­meçar um dia, e talvez assim influenciará algum presidente. Como a campanha de 2018 será longa—já começou —, talvez seja essa uma oportunidade.

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