Na continuidade das postagens de textos do livro ” Justiça Fora dos Autos” seleciono para os seguintes de autoria da Desembargadora Sérgia Miranda do Tribunal de Justiça do Ceará:
” Olhos Verdes
Entrei na magistratura, em l.° de setembro de 1986, quando a idade mínima era 25 anos, de acordo com a Constituição da época. Na ocasião, acabara de completar 26 anos. Meus cabelos louros eram encaracolado-. Meus olhos verdes estavam cheios de esperança.
Assumi a comarca de Orós, alto sertão do Vale do Jaguaribe. Dias depois da minha posse, chegou, ao fórum, o Sr. Zé Francelino, Vereador representante da Vila de Guassussê, homem simples, matuto cearense, que não sabia construir uma frase completa.
Adentra a sala onde estou e pede para falar com o Juiz. Respondo que eu sou a juíza. Ele retruca: “mas eu quero falar é com o Juiz”. Insisto . que eu sou a juíza. Ele olha, fixamente, para mim e diz: – “E desde quando . uma Juíza pode ter cabelo enrolado e olho verde?” Quem não está acostumado estranha..
“Vida fácil:
Presidindo uma audiência de investigação de paternidade, em que conhecido político local estava sendo demandado por uma prostituta, que saíra “da vida” por causa do amor nutrido pelo pai do seu filho, e ouvindo as testemunhas sobre o suposto relacionamento (não existia exame de DNA), o representante do Ministério Público começava suas perguntas sempre com a seguinte indagação: “Dona fulana ê mulher de vida fácil?”.
Eu observava o nítido incomodo da mãe do menor, quando ouvia essa pergunta. Na terceira testemunha, ao se fazer a mesma repergunta, ela espalmou as mãos em cima da mesa, levantou-se e disse para mim: “Olha, doutora, se eu sou mulher de vida fácil, esse Promotor é homem de vida fácil, porque ele vivia no meu cabaré! ”
Audiência encerrada.”
Moral da historia: quem fala o que quer ouve o que não quer…
Muito bom!! Quinhavo, seu livro pode sair, muito bom
obrigado Neca