EXPLORAÇÃO DE OBRAS PÚBLICAS

Já falei sobre a transposição do Rio São Francisco e os equívocos históricos em torno desse projeto.

Agora, volto a citá-lo nesse texto em que critico e com muita veemência, a cultura da exploração das obras públicas no nosso país.

No meu entender e tive oportunidade de assim proceder, não tem que realizar gastos com recursos públicos para inaugurar uma obra concluída. Se é uma barragem que se conclui, o que tem a ser feito é o fechamento da mesma para a criação do Lago e tão logo atinja o limite mínimo necessário as máquinas são ligadas para o início de geração da energia. E no máximo faz-se a comunicação à população.

Hoje, vejo no noticiário uma pequena multidão reunida no Estado da Paraíba, no local de chegada das águas do Rio São Francisco, com a presença dos Ex Presidentes Lula e Dilma para proceder à ” inauguração popular”, que na verdade foi um comício extemporâneo e que faço questão de transcrever: “

“Estadão Conteúdo

19.03.17 – 22h14

A cerimônia popular de inauguração das obras de transposição das águas do Rio São Francisco realizada em Monteiro (PB), na tarde deste domingo, 19, transformou-se em um comício pela candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2018. A ex-presidente Dilma Rousseff, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), e o próprio Lula fizeram referências às eleições de 2018 em seus discursos.

Além dos discursos, a praça lotada de pessoas aos gritos de “Lula, Lula, olê, olê, olá” e “Fora, Temer”, a caravana de políticos e autoridades que contou com 15 senadores, dezenas de deputados, os presidentes do PT e do PCdoB, entre outros, e até os camelôs que já vendiam camisetas com a inscrição “Lula 2018” também remetiam a cenas típicas de campanha eleitoral.

Dilma, a primeira a falar, alertou para a possibilidade de Lula ser impedido de participar das eleições. O ex-presidente é réu em 5 processos referentes à Lava Jato e seus desdobramentos e, se for condenado em primeira e segunda instâncias, pode ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

“Não vamos permitir um segundo golpe. O objetivo deles é impedir que candidatos populares sejam colocados à disposição do povo. O lula é esse candidato”, afirmou Dilma. “No tapetão, não”, completou a ex-presidente dizendo que os brasileiros têm um encontro marcado com a democracia em outubro de 2018.

No discurso feito a uma multidão na cidade de Monteiro, Dilma afirmou que o projeto da construção foi de Lula para contrapor ao discurso do presidente Michel Temer de “paternidade” da obra.

A exemplo do que havia feito quarta-feira diante de dezenas de milhares de pessoas que participaram de um ato contra a reforma da Previdência na Avenida Paulista, em São Paulo, Lula usou a cerimônia deste domingo, no agreste nordestino, para encaixar trechos de seu discurso de pré-candidato.

Ele lembrou dos pontos positivos de seus oito anos de governo, do bom desempenho da economia, e fustigou as políticas impopulares de ajuste fiscal adotadas pelo governo Michel Temer.

Lula voltou a dizer que a melhor forma para combater o déficit da Previdência é aumentar a base de contribuintes através da criação e formalização de empregos e do aumento de salários. O ex-presidente, que desde o final do ano tem trabalhado ao lado de economistas petistas em um programa para contrapor o governo atual, explorou o fato de já ter governado para criticar a gestão Temer. “Se eles, diplomados, não sabem fazer isso, peçam um conselho porque eu sei como é que faz”, provocou Lula.” Terminou com a única referência à obra para dizer que ““Dilma e eu, Ricardo e outros governadores temos o orgulho de dizer que somos pai, mãe, irmão, tio, primo e sobrinho da transposição das águas do Rio São Francisco.”

Como vemos à título de promover a inauguração de uma obra que se destinou a matar a sede do nordestino, a criar condições de irrigação de suas terras, o que se faz é a realização de comício já para as eleições de 2018.

Mas, é necessário destacar que essa árvore genealógica do projeto é deturpada principalmente por der descabida. Como disse o Presidente Temer esse projeto é do povo e não tem outro dono.

No entanto se insistem em estabelecer paternidades vamos aos fatos cronológicos:

1847 – O Imperador D. Pedro II determinou os estudos necessários para esse projeto que acabou elaborado por um engenheiro alemão .

1943 – Getúlio Vargas retomou a discussão

1973 – Primeiro projeto consistente por iniciativa do ministro Mário Andreazza no Governo Figueiredo que previa inclusive a transposição do Rio Tocantins para o Rio São Francisco

1994 – Presidente Itamar Franco designou o Ministro da Integração Regional Aluízio Alves para dar andamento ao projeto. Todas as providências legislativas foram tomadas e a captação de financiamento junto ao Banco Mundial, além das medidas necessárias para as desapropriações das ‘áreas.

1995 – Governo FHC o projeto foi paralisado, mas foi criado o Projeto de Conservação e Revitalização da Bacha Hidrográfica do São Francisco e modificações no projeto prevendo novas bifurcações.

2007 – Início das obras pelo Exército no Governo Lula com previsão do término em 2015, já com a participação de empreiteiras.

2017 – Inauguração do trecho pelo Presidente Temer.

Vê-se, portanto, que, sem tirar os méritos dos Governos Lula e Dilma na execução do projeto que sofreu várias idas e vindas e problemas que não desejo me referir aqui, permitir que denomine a Obra como um projeto petista e lhe atribuir a condição de pai, mãe, avô, primos e etc.…é exagerado porque se tem pai, esse seria o Imperador Dom Pedro II.

A minha contestação não se situa a esse projeto pontualmente. É que me recordo do Presidente Itamar Franco que determinou a construção de uma ponte no interior de Santa Catarina reclamada e projetada por mais de cem anos. Concluída simplesmente determinou que o tráfego fosse aberto aos usuários. O Governador do Estado não se conformou pelo fato de não ter sido programada uma grande inauguração, naturalmente para tirar proveito político eleitoral, mas Itamar não se curvou e deu por encerrada a questão.

Em Rondônia a região de Ariquemes-Vilhena-Ji Paraná, vivia em turbulência motivada por falta de energia gerada por usina termoelétrica que além de altamente dispendiosa pelo consumo de Diesel estava sempre necessitando de manutenção. Em um  desses episódios recebi o Governador Piana que levava a questão a níveis desesperadores uma vez que a termoelétrica havia chegado ao seu limite de vida e uma nova teria que vir de Vitória ( ES) e levaria na melhor das hipóteses três meses para chegar.

Levado o problema ao Presidente Itamar convocou o Ministro das Minas e Energias para informar o tempo mínimo necessário para a construção de um linhão ligando a Usina de Samuel até essas cidades. O ministro respondeu que havendo a garantia dos recursos conseguiria concluir em 90 dias. A execução das obras foi determinada naquele momento e em menos de 90 dias aquela população já recebia a energia gerada por Samuel e nunca teria apagões por causa da termoelétrica que foi simplesmente afastada do uso.

Veio então a célebre proposta de uma grande inauguração. Itamar simplesmente disse ao Governador: ” a inauguração se dará com a ligação da chave na Usina e o povo saberá que foi inaugurada quando ligar os interruptores e a luz se acender.” Quanto à paternidade daquela obra reclamada há séculos respondia: ” Foi o contribuinte que pagou os seus impostos.”

E assim agia em umas tantas obras realizadas em seu Governo, como também em Minas Gerais na sua gestão como Governador.

Por isso eu estranho tanta exploração em torno de obras que pertencem ao povo, realizada pelo povo e usada para a sustentação de projetos pessoais.

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