Estamos diante de um quadro em que de onde menos se espera é que acontece mesmo.
A nossa história não é rica em episódios de eliminar o adversário em disputas eleitorais, a não ser pelo voto ou a tentativa de se utilizar o tapetão. Agora, no entanto, com a sociedade brasileira, desgastada, desesperançosa, revoltada, indignada e descrente com a classe política, tudo isso aliado ao índice de violência cada vez mais crescente, passamos a presenciar fatos como o ocorrido contra o Deputado Jair Bolssonaro, candidato a Presidência da República.
Há de se dizer que a escolta da polícia federal foi incompetente, ou que o candidato foi imprudente se expondo totalmente desprovido de cuidados no contato direto com a multidão. Isso é uma questão que envolve um raciocínio mais apurado.
Tive condições de viver algumas passagens em campanha eleitoral acompanhando meu saudoso amigo Itamar Franco. Por mais que a gente alertasse, advertisse e apelasse para as cautelas necessárias a resistência era sempre presente de sua parte. Não sei se pela naturalidade própria de seu perfil ou se é uma regra seguida pelos políticos em geral, o fato é que era um desafio a ser enfrentado
Lembro-me da campanha para Governador de Minas Gerais, estávamos em uma passeata na cidade de São Sebastião do Paraíso, quando Itamar embolado no meio daquela multidão sentiu-se ofendido por um cidadão completamente bêbado que gritou : “ Some daqui seu ladrão!!”, e partiu para cima dele . Ainda bem que estávamos por perto e impedimos um mal maior. Questionei a atitude como imprudente ele me respondia: “ Fica tranquilo, ela não deixa acontecer nada não. ” Na campanha para o Senado participávamos de uma passeata em uma favela em Belo Horizonte, acompanhados dos demais candidatos a Governador e deputados, em um domingo, dia de folga, comunidade cheia, eleitorado meio a meio, com alguma hostilidade, ele se meteu no meio do povo sem nenhuma segurança, quando foi iniciada uma briga entre facções e por pouco não se envolveu para defender um correligionário. Mais uma vez o retiramos do local, sob protesto, e novamente à era questionada respondia a mesma coisa: “ Fica tranquilo, ela não deixa acontecer nada”. Quando chegamos ao Hotel, perguntei o significado daquela fala ele tirou do bolso uma imagem de Santa Terezinha. Por muito que eu respeitasse a sua devoção fui obrigado a reclamar dessa imprevidência.
Mas, por muito que eu me preocupasse todas as vezes que saiamos, tive que me curvar a uma evidência. É praticamente impossível evitar um atentado em um quadro próprio de uma campanha eleitoral a não ser que se restrinja às rádios, televisões ou rede sociais, porque a arena é muito ampla e aberta e altamente vulnerável.
Não podemos desconhecer o sistema de segurança dos americanos, altamente especializados e equipados, que se mostrou incapaz de evitar o assassinato de John e Roberto Keneddy. O primeiro desfilando em carro aberto na cidade de Dallas foi morto por um ex-fuzileiro naval Lee Oswald assassinado em seguida por Jack Ruby dando evidencia clara de uma conspiração e seu irmão, previamente vitorioso na campanha para Presidente, cinco anos depois no hall de um Hotel Ambassador pelo palestino Sirhan Sirhan. Ronald Reagan Presidente também sofreu um atentado na porta de um Hotel em Washington por John Hinckley Jr sem, nos esquecer do Presidente Abrahan Lincoln morto com um tiro fatal em um Teatro.
No Egito o Presidente Anuar Sadat presidia um desfile militar quando um grupo de soldados abandonou a formação e metralhou o palanque presidencial.
A linda primeira ministra do Paquistão Benzir Bhutos, ao voltar de um comício foi atacada por um homem bomba.
Para a visita do Papa João Paulo II ao Brasil foi construído uma Pick up Mercedes Benz com uma carroceria de blindex blindado, mas o Sumo Pontífice obedeceu as ordens da Segurança e se manteve dentro do quadrado permitido. Já no Vaticano botou a cara de fora, foi baleado por um turco militante. No Brasil o Papa Francisco no mesmo carro usado por João Paulo II e Bento XVI mandou às favas as ordens da Segurança e ficou à mercê da sorte que felizmente funcionou.
Esses fatos nos mostram que com todo o procedimento e aparatos utilizados a vulnerabilidade é absoluta. No caso de Bolsonaro, não fosse esse Adélio ser utilizado para atacar com uma faca pude observar que não havia um esquema de prevenção no alto dos edifícios da Rua Halfeld, de onde um Lee Oswald poderia ter atirado no candidato.
De qualquer forma esperamos e competência não falta para isso, que a Policia Federal juntamente com as Policias mineiras de excelente qualidade, desvendem esse episódio que não pode ser aceito com a simplicidade de considerar uma ação de um Lobo Solitário, que com cara de idiota, servente de pedreiro, desempregado, tem presença constante nas redes sociais, fotografado em abraços com a Senadora Presidente do PT, viajante pelo país com a desenvoltura de um turista, frequentando academia de tiro da elite e agora assistido por quatro advogados de boa estirpe, que se apresentam como portadores de alto índice de benemerência.
Uma coisa é certa: Nós não merecemos isso!! O Brasil que já se viu tomado por uma onda de marginais de colarinho branco, não pode ficar à mercê de barbáries que o levem à anarquia e as nossas instituições hão de prevalecer incólumes.
E os candidatos que se cuidem e tomem as cautelas necessárias e não fiquem esperando que Deus tome conta de tudo, sem dar a sua mãozinha..
nosso BRASIL nao merece este brasil”Bjs
O problema maior é que estão transformando o nosso BRASIL cada vez mais nesse brasilzinho.
Nós, que somos profissionais de segurança, somos testados a equilibrar o necessário contato do candidato com o leitor, com a possibilidade real de um atentado a sua integridade física. Não existe uma receita de bolo! É necessário principalmente que a equipe esteja focada todo o tempo e pronta para agir, minimizando os danos em caso de intercorrência. Felizmente, todas as situações de perigo eminente ao VIP, pelas quais passei, pude agir e minimizar as suas consequências. Não credito à sorte, mas sim ao meu empenho e foco. Ótimo artigo!
Obrigado Pelluso. Mas vc sabe bem a dificuldade de enfrentar a euforia do candidato que desconhece todo e qualquer conselho na hora do ” abafa”. Depois …..abs