Dediquei esse feriado ao desperdício de assistir o programa eleitoral divulgado pelas redes de televisão, e terminei o dia sem saber um milímetro dos projetos dos presidenciáveis. O petista Haddad com cara de vítima reclamando todo o tempo e batendo na tecla como um samba de uma nota só, acusando o Bolsonaro de ter votado contra as domesticas, contra os deficientes etc. e chamando o adversário de fujão porque não comparece aos debates. E esse perdendo seu tempo em dizer que já cansou de falar que essa acusação é mentirosa.
O que os candidatos deveriam estar fazendo nessa reta final é esquecer a figura do outro e deixa-lo sozinho desfilar suas lamurias e aproveitar o nobre espaço que lhe é concedido para mostrar o que pretende fazer pelo bem do país, estabelecer uma agenda positiva ao invés de ficar na mesmice de acusação recíproca.
Assim são os debates. Para que servem? Para um rosário de provocações e acusações estéreis para satisfazer uma falange de seguidores que adoram um conflito, ávidos por uma batalha verbal de ofensas e que seriam integrantes de uma torcida organizada no Coliseu na luta entre leões e cristãos, sob o comando de Calígula.
Por isso o candidato petista se empenha arduamente na convocação de Bolsonaro para o debate na televisão, porque contando com o perfil do capitão está aparelhado para provoca-lo e conseguir um destempero que possa ser explorado o resto da semana. Para que seria esse encontro “ vis à vis”? Cada participante tem 30 segundos para formular uma pergunta e a resposta será dada em dois minutos. Qual o tema que poderá ser debatido em dois minutos? Um projeto para educação? Saúde? Segurança? E mais ainda os candidatos estariam preparados para debater com profundidade a respeito de todos os assuntos atinentes a administração do país? Por isso, esse programa só tem utilidade para medir os índices de audiência da emissora que lucra também com as famosas entrevistas relâmpago com os candidatos em que os apresentadores com pose de inquisidores da idade média vão munidos de questões cujo objetivo central é a humilhação do entrevistado.
Recordo-me da campanha de 1998 para o Governo de Minas Gerais, da qual fui um dos coordenadores, da equipe do ex-Presidente Itamar Franco. Todo o trabalho transcorreu harmonicamente até quando se chegou a um impasse a respeito da participação em debate. A minha posição era no sentido da produção de peças temáticas a serem divulgadas no programa eleitoral, sem nenhuma alusão a provocações ou acusações infundadas, a não ser em caso de uma ofensa, calunia ou difamação, caso em que a própria legislação oferece as providências cabíveis.
No segundo turno, Itamar participou do primeiro debate, da TV Bandeirante quando o seu adversário sabendo do seu temperamento passou todo o tempo provocando e ironizando na espera de uma explosão que não ocorreu, a duras penas, mas em face da preparação que tivemos medindo as suas reações. Mas, como era de se esperar de nada valeu a não ser a exposição pública.
Venceu a corrente da qual eu fazia parte de que não iria mais em nenhum debate, ficando para decisão posterior o da TV Globo que seria o último, tendo como mediador Alexandre Garcia. No dia do programa pela manhã, recebemos um boleto do IBOPE em que Itamar teria 14% (quatorze por cento) a mais que seu adversário o que motivou a aflição da corrente mais emotiva, que queria ver o nosso candidato partir para cima do seu concorrente em contraposição da outra que preferia a ponderação e a razão e avaliar o custo benefício de sua participação. Assim foi o ambiente até às 19 horas (o debate seria às 20 horas) quando Itamar já vestido para sair, atendeu o meu pedido para uma última conversa e mostramos para ele que se não comparecesse o máximo que poderia ocorrer, segundo os técnicos do IBOPE, seria a perda de dois pontos e se participasse seria o imponderável, uma vez que tínhamos o conhecimento de um treinamento de seu oponente para conseguir um desastre na contenda verbal.
Apesar de sua resistência apoiada por outros nossos companheiros que apoiavam a participação me autorizou comunicar a Alexandre Garcia que não poderia comparecer. Ao invés de cancelar o programa o adversário insistiu na participação respondendo perguntas do repórter com um desempenho sofrível porque estava preparado unicamente para atacar. No mesmo dia o índice de Itamar ultrapassou os 16% (dezesseis por cento).
Não podemos desconsiderar o risco de uma palavra mal colocada e um ato mal executado.
A história nos mostra como um dos maiores erros de campanha o que ocorreu em 1945. Candidatos o General Eurico Dutra, Brigadeiro Eduardo Gomes, Cedo Fiuza e Rolim Teles. O favorito era o Brigadeiro, que sem nenhuma dúvida estaria eleito. Ocorre que a eleição era realizada com as cédulas impressas e em face da pluralidade das eleições gerais, nos municípios teriam que ser depositadas (Presidente, Vice-Presidente (era eleito), Governador, Senador, deputado federal, deputado estadual, prefeito, vice-prefeito, vereador e Juiz de Paz), dez cédulas. Em face das dificuldades para essa votação os cabos eleitorais distribuíam uns envelopes fechados com as cédulas já selecionadas, a que se dava o nome de marmitas e o que fornecia seria o marmiteiro.
O Brigadeiro Eduardo Gomes em discurso proferido afirmou: “ Não necessito dos votos dessa malta de desocupados que apoia o ditador para eleger-me Presidente da República! “
Hugo Borghi, do PTB, alterou a fala do Brigadeiro e divulgou que ela teria dito: “ Não preciso dos votos dos marmiteiros! ”
E em todos os comícios de Dutra surgia uma marmita gigante referente à comida do trabalhador, o que fez com que Eduardo Gomes amargasse uma derrota inesperada.
Se eu estivesse participando da coordenação da campanha de Bolsonaro, fatalmente estaria batalhando para que ele como Itamar (temperamentos mais ou menos equivalentes) não participasse de debate nenhum, principalmente porque, pelo exemplo até agora demonstrado o seu adversário vai se ocupar unicamente de tumultuar e nenhum proveito lhe dará. Por outro lado, esqueça a figura do cidadão, que ele mesmo com sua companheira de chapa vai conseguir se destruir e aproveite o restante do tempo para propagar as suas ideias e seus projetos e proclame alto e bom som um enérgico refugo aos que em seu nome andam promovendo arruaças e agressões.
AMEI ESTA POSTAGEM, PENSO COMO VC! ESTAVA SENTINDO FALTA DE LER SEUS TEXTOS
SE NÃO FOSSE VC JAMAIS TERIA LIDO ESTE, VALEUBEIJO PARA VCS! MANDA MAIS!!!
Já estava sentindo falta, obrigado pela avaliação.
Concordo plenamente contigo, pra quê ir
à debates?Tolices. ..
Agora é organizar as alianças e pensar num bom e competente ministério!
Falou tudo…esse é o pulo da onça!!
Basta de provocações e fake news nas redes sociais e em debates. O Bolsonaro é o candidato escolhido para varrer o PT desta eleição. É hora de fazer alianças. Ótimo texto.
Obrigado. Estamos com a faca e o queijo na mão, basta saber usá-los, senão ……