Passada a ressaca das eleições, com os ânimos acirrados, o que se esperava era que o início do governo trouxesse um apaziguamento da sociedade com o crescimento das esperanças de um novo tempo. Entretanto, nem sempre é assim, principalmente com o quadro político composto de dezenas de partidos, que em sua maioria não tem sequer um programa ideológico definido, com a aparência de uma entidade civil com propósitos de participar dos pleitos eleitorais em busca do poder pelo poder, a respeito de que já tive oportunidade de discorrer em um texto com esse nome publicado em 06 de julho de 2013, destacando o fato de que nada mudou.
A palavra mais ouvida nesses tempos era a da mudança, que aliás foi o mote utilizado como instrumento de campanha em atendendo ao sentimento do eleitorado que não suportava mais o status quo que apontava para o país o pior dos futuros.
O Presidente Bolsonaro não mudou o seu discurso e montou o seu governo com uma equipe técnica da melhor qualidade que já está se desincumbindo de suas missões, em silêncio com sói acontecer. Mas, na área política tem sido um qualificado desastre uma vez que os protagonistas não entenderam até o momento que eles estão compondo uma equipe cuja obrigação é propiciar condições para que o governo atenda aos anseios do povo que tudo espera e tem paciência de esperar, embora com certas limitações de tempo e de temas.
O que temos assistido são figuras deslumbradas que se postam como se fossem os grandes ícones da política brasileira sem perceber que em sua maioria recebeu um número de votos que jamais teriam, não fosse a corrente do “Mito” que acabou como em uma enxurrada, trazendo alhos e bugalhos inexperientes e que ainda não desceram do pedestal em que se colocaram, e que deveriam retribuir formando uma base aliada para o governo daquele que os elegeu ao invés de buscar posições para o engrandecimento pessoal.
No início, por força de seu estilo pessoal o Presidente não media muito as suas palavras e dava declarações que deveriam aguardar um momento certo e que acabavam sendo desfeitas por intermédio de auxiliares que não podem ter essa competência sob pena de inverter a pirâmide hierárquica do governo. Isso foi equacionado com a nomeação do Porta Voz, na pessoa do competente General Otávio Santana do Rego Barros. Mas, ainda tem gente falando por contra própria e tumultuando o ambiente já bastante conturbado.
O problema maior, nessa área política, a ser enfrentado estará na questão partidária, e isso acontece tradicionalmente.
João Goulart, Jânio Quadros, Sarney, Collor, Itamar e todos passaram por esse calvário que está reservado para Bolsonaro. O primeiro do PTB foi eleito, vencendo Milton Campos da UDN da chapa de Jânio Quadros formada por uma coligação tendo como base o seu partido PRN (inexpressivo) acoplado a mais cinco outros. Ou seja, um oposicionista na vice-presidência. Jânio Quadros renunciou com oito meses de mandato por falta de apoio político e João Goulart foi derrubado com três anos de mandato. Jânio pertenceu em sua vida pública ao PDC, PTN.MDB.PTB, PSD e PRN, ou seja, não foi realmente vinculado a nenhum.
Presidente Sarney, integrou PSD, UDN, ARENA, PDS e PMDB. Com exceção dos dois primeiros os demais artificiais sem uma consistente participação, não contando com nenhum deles em torno de um posicionamento programático.
O Presidente Collor até a sua eleição presidencial integrou a ARENA,PDS,PMDB,e PRN. Elegeu-se pelo PRN que após a eleição se desintegrou, não terminou o seu mandato, sofrendo um impeachment unicamente por falta de apoio parlamentar.
Presidente Itamar Franco filiado ao PTB, PMDB, PL (para ser candidato ao Governo de Minas em face do PMDB ter apoiado Newton Cardoso), MDB (para se candidatar ao Governo de Minas) e PPS (para se candidatar ao Senado). Ou seja, sempre necessitando de uma sigla para alicerçar sua candidatura, sendo certo que na possibilidade de candidatura avulsa teria o mesmo resultado. O momento político, pós impeachment, contribuiu para uma maior participação parlamentar em sua base de apoio.
Jair Bolsonaro, ao longo da carreira pertenceu a PDC, PP, PPR, PRB, PTB, PFL, PSC e PSL. Vale registrar que as votações obtidas foram todas de cunho pessoal, da sua base militar e as decorrentes de sua atuação parlamentar.
Agora, estaremos vivendo a mesma situação enfrentada por todos os seus antecessores que não obtiveram o apoio necessário por uma força partidária consistente e leal, como tinha Getúlio Vargas com o PTB e Juscelino com o PSD. Eram partidos que realmente representavam os seus eleitores e mantinham uma coerência programática, assim como a UDN.
O PSL nunca se despontou como um grande partido e sempre esteve à disposição para oferecer suporte a uma candidatura como agora com Bolsonaro. De 1999 até 2018 o partido elegeu 1 deputado federal e nenhum senador. Para 2019, com a candidatura de Bolsonaro elegeu 52 deputados federais e 4 senadores. Pretender que esse desempenho se deve ao Partido é uma navegação sem precedentes.
Por isso, voltando às trapalhadas, é evidente que qualquer tumulto no governo é altamente prejudicial, mas ampliar uma ocasional substituição de um ministro para o nível de crise política é como matar pardal com canhão. O único grande prejudicado nessa história é esse partido com uma bancada artificial que consciente do seu real potencial estará pronta para desembarcar a qualquer aceno, fazendo com que a agremiação volte ao “status quo ante” de 1 representante.
Mas, já é chegada a hora de estancar as trapalhadas porque ainda resta um brado de esperança do brasileiro.