ACOMODAÇÃO

Não é novidade o período de acomodação no início de governo, embora para tudo haja um limite, de conteúdo e de prazo.
Já estamos no terceiro mês após a posse do Presidente Bolsonaro e assistimos aos tumultos decorrentes da sua controversa relação com a mídia, sua preferência para as redes sociais, sujeita à proliferação dos fake News, quase se institucionalizando, articulação política conturbada fazendo com que o Parlamento composto em sua maioria de novatos não diga a que veio, as instituições sofrendo risco de desestabilização e o perigo da frustração da sociedade que buscou as mudanças nas eleições.
Vamos eleger, nesse elenco, a articulação política para comentar, por ser a principal fonte geradora de desagregação.
Revolvendo o passado, vamos encontrar que do Governo de Getúlio Vargas até o período do governo militar, em 1964, essa função era entregue ao comando partidário que dava sustentação ao governo. Daí a importância das alianças políticas nas eleições presidenciais como a famosa PTB/PSD através da qual o General Eurico Dutra foi eleito em 1946 vencendo o Brigadeiro Eduardo Gomes (UDN), que em apenas cinco Estados teve mais votos, e garantindo a eleição indireta de Nereu Ramos (PSD) para o cargo de Vice-Presidente, derrotando José Américo da UDN. O governo Dutra era a própria aliança pois o seu Ministério foi formado majoritariamente por representantes das duas legendas PTB/PSD tendo na Casa Civil Dr Alfredo Monteiro sem vinculação partidária e responsável pela condução burocrática.
Em 1950, novamente atuou a coligação, embora de forma subterrânea, pois Getúlio Vargas do PTB recebeu os votos do PSD que lançava Cristiano Machado, ex prefeito de Belo Horizonte para “ inglês ver”, negando o apoio necessário, razão porque surgiu o termo “cristianizar”. E do mesmo modo o Ministério era formado pela coligação ficando a condução política por conta da cúpula partidária representada por Osvaldo Aranha (PTB) Amaral Peixoto, e Deputado Gustavo Capanema do PSD, ex Ministro da Educação de Getúlio Vargas. Na Casa Civil Lourival Fontes também responsável pela burocracia. No momento em que perdeu o apoio dos pessimistas que se aliaram aos udenistas, pessimistas e perrelistas, acabou o governo com o suicídio do Presidente. No clamor da morte de Getúlio Vargas o governador de Minas Gerais Juscelino, é eleito pela coligação PTB/PSD tendo como Vice-Presidente João Goulart (PTB). Na Casa Civil Professor e Jornalista Álvaro Lins, sucedido por Dr Vitor Nunes Leal, Embaixador Sete Câmara e Dr Oswaldo Maia Penido, todos com a mesma missão de coordenar a ação governamental, mas a articulação política era entregue totalmente aos próceres partidários que tinham realmente total comando da sigla.
À época os candidatos aos postos eletivos emergiam das decisões partidárias, ao contrário de hoje que os candidatos se qualificam e buscam o apoio de um partido para sustentar a candidatura com a legenda para efeitos legais, sem
nenhuma relação até mesmo programática. Com isso, os partidos saíram do contexto da articulação política por falta de legitimidade e consequentemente de força política para tal. No caso atual, que força ostenta o PSL, partido que em uma década elegia 1 deputado, seu Presidente e nenhum senador? Agora surge com 52 deputados e 4 senadores, sem nenhum histórico partidário, eleitos nas costas da campanha do Presidente. E dentre os demais partidos, qual se iguala aos de outrora? E quanto aos seus dirigentes, quais podem se ombrear com aqueles que, carismáticos, mereciam o respeito e praticamente a submissão dos seus partidários? E o principal é o fato de que a base do regime democrático são os partidos políticos, associação de pessoas com interesses e ideologias comuns que organizada representam a vontade popular visando o poder, com o anseio de exercer a influência sobre a orientação política do país, aliados ou não aos governantes em exercício.
Que sucesso pode esperar de uma relação conflituosa entre os chefes dos Poderes que devem ser harmônicos e independentes entre si, segundo nossa Carta Magna?
Esse foi o ponto nevrálgico dos governos de Jânio Quadros, Fernando Collor de Melo e Dilma Roussef, que ensimesmados julgaram-se acima de todos e não terminaram os seus governos, de forma legítima ou ilegítima, não é o caso em discussão, pois a razão verdadeira está no divórcio com os partidos e consequentemente com a classe política.
Itamar Franco deu um exemplo de que é plenamente possível conviver de forma harmônica com os partidos, inclusive de oposição, sem menospreza-los e sem a eles se submeter, simplesmente tê-los como protagonistas ao invés de meros testemunhas, não só aceitando, mas desejando a sua influência na condução do seu governo e sabendo separar o “ joio do trigo”. sempre atento às “colaborações espúrias” vindas de setores e pessoas especializadas em usufruir das relações, participando de todos e não honrando a nenhum. Por outro lado, há que se ter em mente que a pluralidade tem o seu valor ao contrário de eleger a orientação ideológica e filosófica de “ gurus” sem vivencia política e sem capacidade de gestão que poderão causar grandes estragos e desarranjos na administração.
Há uma grande preocupação no ar, partidários de Bolsonaro que na campanha se emocionavam à simples menção de seu nome, passaram a repensar o posicionamento pela ausência da realização dos seus anseios. São pacientes e e concordam com a necessidade de esperar os resultados, mas se assustam com os episódios mais recentes de influências externas. E se surpreendem vendo que ao seu lado estão pessoas da mais alta categoria profissional e pessoal como os Generais Mourão, Augusto Heleno, Villas Boas e Santos Cruz, alvos de críticas por setores que nem deviam opinar.
É hora de se focar na essencialidade dos problemas do país e de forma objetiva assumir o comando sem excesso de centralização, mas evitando a dispersão e a exposição pessoal que em nada contribui, e ao contrário, banaliza.
E finalizando, sobre articulação política, na realidade de hoje o melhor é compartilhar ao invés de individualizar e é urgente que isso se faça.

Excelentes as matérias postadas

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