Uma qualidade do Presidente Itamar Franco era a de ser bom ouvinte. Ainda que não adotasse tudo o que ouvia adorava ter um interlocutor, selecionado dentre o jardineiro ao intelectual, mas dava preferência aos mais experientes. Daí a sua predileção em dialogar com o Presidente Sarney, Rondon Pacheco, Aureliano Chaves, Paulo Brossard, Severo Gomes, Pedro Simon, Jarbas Passarinho dentre outros. Além disso mantinha um Conselho informal para dividir suas duvidas e evitar atitudes açodadas, impensadas que nunca terminavam bem. Mesmo assim, escorregava e tinha consciência disso e não foram poucas as vezes que me confidenciava o erro.
Digo isso, porque, por mais esperança que tenho, aliada a uma admiração pessoal pelo Presidente Jair Bolsonaro, por sua jovialidade, coragem pessoal, sinceridade e boa intenção, ouso dizer que está na hora de botar o pé no freio porque os limites são finitos, a vida pública é traiçoeira, a opinião publica é dinâmica e nem sempre sensata e é oscilante como o pêndulo de Chevreul.
Nunca é demais uma parcela de humildade que conduza à leitura de opiniões até mesmo de adversários para assimilar o que esteja acontecendo e adotar uma média de pensamento e evitar uma atitude de arroubo que possa acirrar o que não deve ser acirrado.
Coerente com essa conduta transcrevo um trecho escrito durante a campanha, pelo jornalista Italo Coriolano, que não conheço e pelo que escreve é bem claro que se trata de um oposicionista e de cujas ideias não comungo, mas que merecem ser pensadas: “ De uma coisa Bolsonaro precisa ter noção caso seja eleito presidente: terá oposição, como acontece em todas as repúblicas sérias mundo afora. E uma oposição forte, em virtude das ideias polêmicas que defende. Logo, precisará exercitar a tolerância e o diálogo caso não queira mergulhar o Brasil em um caos pior do que o atual”.
Agrada ouvir isso? Não agrada, mas vale uma ponderação.
Em sua visita a Texas, em um clima de festa, o Presidente foi abordado por uma jornalista da Folha de São Paulo que não sabia diferenciar o corte de verbas e o contingenciamento. Ao invés de aproveitar a oportunidade e com carinho paterno mostrar à jovem o engano que praticava, partiu para a agressão e aos brados dizia que a moça deveria voltar para a escola e que o jornal não deveria contratar qualquer uma. Isso não acrescenta nada e abre espaço para uma repercussão desnecessária. Há que se dizer que foi fruto de uma exacerbação motivada pelo stress da viagem, mas se assim é alguém deveria estar atento e aconselhar um recolhimento.
Transcrevo um artigo de Luiz Carlos Azedo do Correio Braziliense muito oportuno e válido como um alerta:
“Ideologia
O “apelo às massas” é uma situação recorrente na política brasileira, quando presidentes se veem em dificuldades com a economia e o Congresso, mas não costuma dar certo. Bolsonaro lembra Jânio Quadros e Collor de Mello, simultaneamente. O primeiro renunciou ao mandato, acreditando que voltaria ao poder nos braços do povo; o segundo, convocou seus apoiadores a vestir verde e amarelo e acabou forçado a renunciar pela campanha do impeachment. A voz rouca das ruas, como dizia o falecido deputado Ulysses Guimarães, se manifestou na semana passada pela primeira vez após as eleições, por causa do contingenciamento de verbas das universidades federais, com forte repercussão no Congresso. A convocação de uma manifestação em apoio ao governo como resposta não vai resolver os problemas do país, apenas eleva a temperatura política e aumenta a radicalização.
O governo tem duas ordens de problemas: uma é estrutural, a crise fiscal, a estagnação econômica e o desemprego em massa demandam reformas econômicas, principalmente a da Previdência; a outra é política, passa por reformas nas instituições, que são contingenciadas pela Constituição, ou seja, pelo Congresso e o Judiciário. A maneira correta de lidar com isso é a apresentação de propostas tecnicamente robustas e politicamente exequíveis, não há outro caminho na democracia. O problema é que Bolsonaro está focado numa revolução conservadora, inspirada em certa nostalgia reacionária.
Houve, no mundo, uma revolução cultural bem-sucedida, com o feminismo, os direitos dos homossexuais e o declínio da autoridade patriarcal, mas não houve uma revolução política. A democracia representativa foi posta em xeque pelo globalismo e o multiculturalismo. É nesse cenário que autores reacionários, como Olavo de Carvalho, encontraram seu público e ajudaram políticos de direita do Ocidente a sair do isolamento e catalisar as insatisfações populares, chegando ao poder em alguns países, entre os quais os Estados Unidos. Toda ideologia, porém, é uma visão distorcida da realidade; diante da objetividade dos nossos problemas, o Brasil precisa é de coesão política para sair do atoleiro.”
Eu me recordo que no Governo FHC em 1996 estávamos perplexos com o dólar americano a R$ 1,70. Hoje está a R$ 4,10. Não é culpa do atual governo, mas para melhorar precisa de uma ajudinha..
É hora de lembrar que precaução e água benta não faz mal a ninguém.
Prezado HH, infelizmente, o Presidente Bolsonaro não percebeu que a campanha já acabou, continua falando com o povo pelo Twitter, pode isso Arnaldo?