Recordações

 

Nos meus tempos de politica estudantil, exercendo o cargo de Presidente do Conselho Acadêmicos da União Estadual de Estudantes de Minas Gerais ( (UEEMG) compareci ao Congresso da União Nacional de Estudante (UNE) realizado no Hotel Quitandinha em Petrópolis (RJ). ( 1961)
Desse conclave guardo duas passagens de poucas lembranças, pois foi uma reunião que a rigor deveria se destinar a discussões de interesses dos estudantes brasileiros e propostas para melhoria do ensino, na verdade se transformou num encontro ideológico, político ( no mau sentido) e de desperdício de dinheiro público que era destinado a essa Entidade.
Inicialmente, na abertura do evento tivemos o primeiro embate.
Cada representante estadual deveria fazer uma saudação aos participantes, ocasião em que representando o Estado de Minas Gerais, tive o meu nome anunciado para falar. Ao me levantar verifiquei que a Mesa era composta dos Deputados Leonel Brizola, e uma bancada de parlamentares comunistas chefiados por Francisco Julião e a Diretoria da UNE, o que fez com que eu me recusasse a proferir a esperada saudação. Ao invés disso aos altos brados protestei pela inusitada presença dessa comitiva que a meu ver não tinha nenhuma legitimidade para estar alí.
Não preciso muito esforço para comprovar a imediata hostilidade da maioria dos congressistas que só não me chamaram de santo, merecendo além dos palavrões uma série de ofensas por parte de todos os oradores que me precederam inclusive levando-se em conta que permaneci na minha bancada impassível.
À tarde recebi uma mensagem da Direção do Congresso que não se responsabilizaria por minha segurança uma vez que eu me tornara “ persona non grata” e tudo poderia acontecer. De fato, à noite as cenas vividas no saguão do Hotel foram inesquecíveis por sua barbárie, e o pior é que haviam muitos hóspedes, inclusive estrangeiros que não entendiam as razões do tiroteio que ali se presenciou em face de um confronto entre os aliados da UNE e os oposicionistas pernambucanos.
Com tais ocorrências fui retirado do local por um grupo comandado por um ex Presidente João Pessoa de Albuquerque, aliado da UEEMG, que me hospedou em Hotel central de Petrópolis, cujo nome não me recordo.
No mesmo dia fui contatado por uma pessoa de nome Osiris que se intitulava Presidente da União Metropolitana de Estudantes, do Rio de Janeiro, e que desejava me encontrar na Praça Central da cidade. Para lá me dirigi e fui abordado por uma pessoa que me conduzia até o Osiris que se achava debaixo de uma ponte ( essa Praça é toda cortada por umas lâminas de agua que contam com pequenos pontilhões para a travessia dos usuários). Apesar da surpresa pela situação não usual acerquei-me do dirigente carioca que trazia nas mãos um pacote e sem muita cerimonia foi dizendo que em face da minha situação conflitante com os aliados da UNE foi planejada uma ação para comprometer a entidade máxima com a colocação desse pacote, que era uma bomba, debaixo da minha cama e que com a explosão daria condições para ser feita uma grande manifestação de protesto com repercussão nacional.
Ouvi com atenção a proposta e após meditar disse-lhe : “ Osiris acho perfeita a ideia engenhosa e bem planejada e fácil de ser executada. Mas, como você está bem enfronhado com o plano, acho melhor você colocar essa bomba debaixo da sua cama e eu ajudo na manifestação.” Deixei o meu interlocutor perplexo com o presentinho na mão e fui embora sem maiores explicações.
O relato vale para diversas compreensões.
Em primeiro lugar para relembrar que esses Congressos patrocinados pelo Governo com recursos públicos sempre foram palco de baixarias, libertinagem, politicagem e total ausência de interesse nacional como sempre se propagou.
Em segundo lugar para demonstrar que os estudantes bem intencionados, como eu me reporto à época sempre estiveram à mercê de manobras por parte dos intitulados líderes de quaisquer das facções integrantes.
Finalmente que o próprio governo deve tomar a frente de debates sobre a politica educacional com a presença de representantes estaduais, legitimamente escolhidos para evitar que as questões sejam conduzidas de forma distorcida e com o risco das manipulações indevidas.

4 comentários em “Recordações

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  1. Parabéns e muitas felicidades! Que a vida continue sorrindo e presenteando você com as melhores graças, com muito amor, com muita saúde, amizade e felicidades mil. Desejos de um dia muito feliz e que você possa celebrar a vida hoje e sempre, e celebrar-se a si todos os dias da sua vida.

Excelentes as matérias postadas

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