O raciocínio torna-se penoso quando o ambiente se degenera.
Paul Valéry ensinava que um fato mal observado é mais pernicioso que um raciocínio errado.( 1871/ 1945)
Confúcio especulava que estudo sem raciocínio é uma armadilha; raciocínio sem estudo é um perigo. ( 551 A.C.)
E Sófocles concluía que raciocínio e a pressa não se dão bem. (480 A.C.)
Embora tudo isso tenha sido ensinado a priscas eras até hoje assistimos uma completa falta de raciocínio por parte dos homens, principalmente, quando se transita no campo da política.
Hoje, vivendo uma das mais algozes experiências com a proliferação desse vírus que confronta o mundo que se agigantava em termos armamentistas, cada nação se preocupando com a hegemonia bélica e que em dado momento se vê perdida em um combate que as suas bombas não são suficientes para vencer. E qual é o inimigo? Um micro-organismo patogênico que não permite ser esmagado como se fosse um carrapato. Que ironia!
Faço esses registros para analisar o comportamento no nosso país, de um povo cordato, manso, religioso passível de uma condução consciente em face das determinações das autoridades responsáveis pelo enfrentamento dessa pandemia, que em sua maioria se mostra esperançoso de superar essa tragédia, se vê obrigado a testemunhar como se fosse uma peça teatral tendo como protagonistas membros do governo que deveriam estar unidos em uma equipe frente a um único foco: o combate ao corona vírus.
Diariamente, recolhidas por conta do isolamento social determinado, as pessoas se obrigam, até mesmo para preencher o tempo, a ligar os aparelhos de televisão para se atualizar nas notícias sobre esse embate.
O que se poderia esperar eram as novidades cientificas sobre a descoberta dos medicamentos e vacinas passíveis de eliminar o invasor, mas, além dos relatos relativos ao avanço da epidemia, vem equipes de repórteres ocupando seu tempo para discutir a respeito de conflitos pessoais entre o Presidente da República e Ministros de Estado.
Esse ponto merece uma pequena e inusitada reflexão.
Me permito considerar que possuo uma certa experiência no assunto, em face da minha participação nos Poderes Legislativo e Executivo por um bom período de minha vida profissional. Sinceramente, não posso admitir que haja essa possibilidade de divergência plena entre o Chefe do Governo e seus auxiliares. Assim como também não me acostumei a ver o Presidente da República, se abster da prevalência da liturgia do cargo para se prestar a bater boca em público com populares, jornalistas e políticos.
A relação entre e Presidente da República e Governadores de Estado independentemente da divergências político-partidárias, se exige, serem de respeito e civilidade, assim como com os parlamentares e membros do Poder Judiciário. Se assim não for, corre o perigo de ver fugir a sua autoridade de Chefe Supremo da Nação, cuja recuperação pode ser difícil e talvez tardia.
Do mesmo modo é inadmissível ver um Ministro de Estado, auxiliar direto do Presidente da Republica confrontar as determinações recebidas, através de pronunciamentos públicos ou inserções em redes sociais, invenção diabólica que degenera a vida social do país.
Não quero dizer que não haja possiblidade de divergência nas ações governamentais. Pelo contrário existem e são necessárias, mas tratadas nos devidos termos e no âmbito interno.
Hoje, um Ministro de Estado sai de uma reunião com o Presidente da Republica e procura os repórteres de plantão para relatar o teor do encontro e às vezes o que é mais grave expõe sua contrariedade como que apelando para os jornais fazerem valer o seu ponto de vista.
Juízes, Desembargadores e Ministros de Tribunais Superiores comentam em off ou publicamente questões relativas aos autos sob sua jurisdição.
Está faltando a aplicação da disciplina consciente que aprendi na caserna, não só como a disciplina objetiva, mas principalmente a disciplina intelectual necessária para a compreensão exata desse instituto.
Quando, na Casa Civil da Presidência da República, fui chamado pelo Presidente Itamar Franco que demonstrando certa preocupação me pedia uma opinião uma vez que o Ministro X lhe havia dito que por não concordar, encontrava dificuldades e não poderia cumprir uma sua determinação. De imediato lhe disse que o caminho seria substituí-lo por alguém que cumprisse. E assim foi feito e o mundo não acabou. Mas, isso foi possível porque ele detinha intacta a sua autoridade da qual nunca abriu mão. Assinale-se, no entanto que esse predicado deve existir por si só e não por desejo próprio, pois é inerente ao cargo.
O problema está no fato de que a moderação, o diálogo, a serenidade, cedeu lugar à incompreensões, a competições indevidas e desnecessárias e uma politização espúria que tantos prejuízos nos traz.
Hoje, ninguém respeita ninguém. Um Ministro de Estado comparece ao Congresso para debater com os parlamentares é ameaçado de agressão. Nas redes sociais o desrespeito é constante por parte de todos, governantes e governados. Assuntos de governo são tratados nos twitters sem nenhuma cerimônia.
Vamos raciocinar um pouco e ver que o Brasil exige, e com muita urgência, de um equilíbrio dos membros de todos os Poderes para que possamos enfrentar o que ainda estar por vir.
Excelentes as matérias postadas