Ao ser convocado a assumir a Presidência da República Itamar Franco me convidou para a Casa Civil do seu governo. Ponderei a ele que eu poderia ajudá-lo de qualquer forma, não necessitando que fosse no cargo de Ministro de Estado e principalmente na Casa Civil, pela previsível resistência dos políticos que não gostariam de ver no cargo alguém que não fosse um seu par.
Eu sabia, que apesar do respeito e das amizades que eu tinha no Congresso, onde eu militava há quase 30 anos seria difícil para eles aceitar que um servidor de carreira estaria ocupando um cargo tão cobiçado.
Itamar, no entanto, foi irredutível dizendo que ele não poderia governar sem ter ao seu lado alguém que cumprisse fielmente as suas determinações, sem filiação partidária e sem projeto político. Essa nomeação seria tida como de sua quota pessoal e fechada a negociações políticas.
Diante disso aceitei o encargo sabendo que eu seria alvo de um constante ataque por parte dos insatisfeitos que contariam plenamente com a ajuda da imprensa para isso.
Se forem compulsados os anais da imprensa daquela época, sem maior esforço se verá que diariamente, principalmente em 1993 o que mais se falava era a pressão do PSDB para me retirar do cargo e me substituir por um indicado do PMDB, com o objetivo claro de tomar conta do governo e ilhar o Presidente. Itamar fazia ouvidos de mercador e eu, que nunca fui adepto ao uso de tranquilizantes, continuava voando de ultra leve toda manhã o que me aliviava o espírito e não dava nenhuma importância aos ataques gratuitos que eram todos referidos à incompetência, à inoperância uma vez que não tinham nada a dizer no que se referisse à ética profissional e moral.
O que me importava realmente é saber que eu precisava “colocar a cara à tapa” para defender o Presidente e assumir os desgastes das suas ações a que os adversários tinham como mais fácil debitar a mim. Não tinha nada a perder uma vez que eu não me utilizava do cargo e estava ali até quando o Presidente entendesse que necessitava dos meus serviços.
E Itamar sabia e tinha consciência que não precisava dar argumentos nem motivos para me exonerar.
No entanto, além da cobiça em açambarcar a Casa Civil havia a inveja que habita a cabeça do político quando vê alguém “brilhar” à sua frente. Desde o tempo em que exercia o cargo de Sub Chefe da Casa Civil de Assuntos Parlamentares, no Governo do Presidente Sarney, a convite do então Chefe da Casa Civil Marco Maciel, nos meus momentos livres que não eram muitos, praticava os meus voos de ultra leve pelos céus de Brasília, mas a imprensa passou a dar destaques a essa prática esportiva quando assumi aquele cargo.
E mesmo antes de tudo isso eu frequentava as tendas de ferro velho do Setor H Norte de Taguatinga, aos sábados garimpando peças para meus carros antigos, o que passou a ser mostrado pela imprensa.
Pela manhã, eu e Heloisa, minha esposa, vestíamos os nossos shorts e caminhávamos pelas calçadas do Lago Sul, o que passou a ser registrado pela imprensa.
Ou seja, nada diferente dos hábitos normais passaram a ter destaques porque eu exercia o cargo de Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República, o que era como um soco no estomago daqueles pobres de espirito cujo universo se restringe a esse suposto brilho.
Mas o que é mais grave é que esses ataques públicos não são exclusivos porque internamente, dentro do governo, existem os invejosos que em “off” alimentam os colunistas de fofocas e intrigas com o objetivo de desestabilizar o “parceiro” da equipe.
Foi quando um amigo experiente me procurou e disse que eu deveria me recolher para ter sossego e assim foi feito. Daí para frente as coisas se acalmaram, principalmente diante do recado do Presidente de que esse assunto estaria fora de questão.
Eu conto tudo isso para comparar com o que hoje estamos assistindo.
O Presidente Bolsonaro, conforme é público, convidou o Juiz Sérgio Moro para o seu governo em face de sua conduta na magistratura e seu conceito junto à opinião pública, sabendo, ambos, que para aceitar o convite necessitaria se exonerar do cargo de carreira que alçou mediante concurso público. Dizem, que seria parte do acordo uma compensação de, no futuro, ser o Ministro indicado para o STF.
O que se poderia esperar que ocorresse com uma nomeação tão cercada de condicionantes? Por outro lado, não há como desprezar o antigo preceito de que “você não deve nomear quem não pode demitir”.
Ainda mais se tratando de Sérgio Moro, que trazia “ brilho” próprio endeusado pelo próprio Presidente, com a imprensa incensando, chegando ao ponto de A Folha, realizar pesquisa eleitoral, absolutamente fora de prazo, colocando como opção o Presidente e o Ministro e, o que é pior, dando como resultado esse último como o mais votado?
Qual a consequência disso, não só na cabeça do Presidente, mas, também na do próprio Ministro?
Claro que Bolsonaro ressentido e Moro assoberbado, chegando ao ponto de, confessado por ele próprio na “entrevista do adeus” de que interpelou o Presidente sobre os motivos da substituição do Diretor Geral da Policia Federal.
Desde quando o Presidente tem que justificar perante o Ministro das razões pelas quais ele deseja a substituição de um integrante de um órgão do governo? Só por essa atitude merecia ser imediatamente demitido.
Recordo-me, de uma sexta feira, ao final da tarde o Presidente Itamar me chamou e um pouco apreensivo me disse que o Ministro X lhe disse que tinha muita dificuldade de cumprir uma determinada ordem dada por ele. Pedia a minha opinião sobre o que fazer.
Eu lhe respondi: “Presidente, se a sua ordem é tão importante o Senhor deve substituí-lo por quem não tem dificuldade nenhuma para obedecer” e ele respondeu: “Eu também acho, providencie a substituição.” E ponto final.
Na realidade, no meu entendimento está havendo uma supervalorização nessa demissão e quem está alimentando é o próprio Presidente a utilizar mídias sociais para falar sobre o assunto e trocar ofensas.
Fiquei estupefato ao ver a insustentável manchete do Correio Braziliense “Bolsonaro troca farpas com Moro “.
Aliás já considero um despropósito o Presidente da República usar mídias sociais para debater ações do governo, onde fica exposto a todo o tipo de interpelação por parte de quem não está presente.
Permito-me, sugerir que o Presidente Bolsonaro deixe por conta de seus apoiadores, filhos, parlamentares, a tarefa dessas discussões em redes sociais e se ocupe com as ações de governo sem se envolver em redes de intrigas.
Precisamos urgentemente de uma Liderança, que só é alcançada se houver autoridade.
Caro Hargreaves,
Que falta você faz para um governo , particularmente em momentos difíceis como este.
Realmente os momentos são dificeis ainda mais se as pessoas não ajudam a torná-los mais amenos. Abaços
Com certeza absoluta.
Hoje temos geração de novas crises dentro de crises já existentes, por pura falta de habilidade e bom senso.
O nosso Hargreaves, pelo contrário, estaria fazendo movimentos em favor dos avanços necessários para o país, de forma firme, eficaz e habilidosa. Um craque.