A satisfação de escrever está literalmente vinculada aos fatos a que se refere.
Por isso sinto-me um tanto balançado ao transcrever os temas frutos da inspiração que, hoje, estejam disponíveis para nossas elucubrações.
Procurei então através da leitura de várias fontes os fundamentos que me permitam discorrer sobre o nosso quotidiano. Confesso que há mais tristeza do que alegria.
É que, onde deveria haver mais fidedignidade da informação, é justo nela, a imprensa, que encontramos as maiores distorções na nobre arte de divulgar.
Pretendi então, me restringir aos textos postados nos jornais, assinados por seus autores, o que constitui uma forma de legitimar o que é descrito. Também os livros de lançamento mais recente com análises e interpretações de fatos atuais. Além disso editorialistas televisivos mais renomados, sem desconsiderar os âncoras dos jornais falados das redes nacionais.
No entanto, a pretensão de analisar os feitos exige de nós o reconhecimento do universo em que nos situamos. Assim, para qualquer avaliação sobre o que ocorre no país, na área política, não nos é facultado ignorar os rumos e os meios utilizados pelos detentores do Poder.
Tivemos uma campanha eleitoral em 2018 em que ficou claro o confronto entre o Partido dos Trabalhadores, desgastado pelo longo tempo em que esteve na alta cúpula gerenciando o Estado e uma nova era de esperança de novos tempos baseada na probidade da gestão pública, mais conservadora, trazida no bojo do discurso voltado para a decência e das grandes reformas tão necessárias ao país que se encontrava à beira do caos.
Nos leva aos idos de 1990 na campanha de Fernando Collor tendo como bandeira a agressão aos “ marajás” e as promessas da recuperação econômica por meio de planos fantásticos e de plena mudança no campo automotivo tachando de carroças os veículos de fabricação nacional, o que fez com que, de imediato tão logo tomou posse, adquirisse dois Lincolns Town Car para seu uso na Presidência da República, doado posteriormente por Itamar Franco para a Legião Brasileira de Assistência, órgão público de assistência social.
Deveras, Collor teve a percepção clara de que todo o seu discurso esbarraria numa série de obstáculos, principalmente no Parlamento, que com muita facilidade o tirou do cargo através de um processo de impeachment que muito longe de ter como fundamento a corrupção que acabou não sendo plenamente comprovada, teve como motivo insofismável o confronto com os senhores parlamentares.
Isto é histórico, e assim foi, além dele, com Jânio Quadros, João Goulart e o próprio Getúlio Vargas. Ninguém sobrevive afrontando o Parlamento.
E por se tornar um refém das correntes partidárias, cria um ambiente hostil com grande respaldo dos meios de comunicação, que se aproveita para escolher o caminho que melhor lhe aprouver, estabelecendo um projeto diabólico que acaba facilitando a sua derrubada a não ser que providencias eficazes e oportunas sejam tomadas.
Uma coisa é certa, ninguém, que pretenda se salvar desse destino, escapa de adotar um veio populista para o seu governo. Os exemplos são bem claros e decorrentes da sedução do Poder, seja ela bem ou mal intencionada.
Uma excelente fonte de informações está no livro de Evaldo Feitosa dos Santos, “Manual do Populismo” em que ele descreve como Lula transformou FHC em grande estadista.
Nesse estudo Feitosa descreve bem as figuras do populista e do estadista. Ele diz:” enquanto o estadista prefere uma linguagem, em regra, escrita, formal e moderada, o populista tem, por característica, a oralidade, sem formalismo. Dispensa o “porta voz” tornando-se seu próprio porta voz. Fala de tudo, o tempo todo, pois precisa manter aceso o ânimo das massas. É incansável nessa tarefa. A linguagem é coloquial de preferência em tom paternalista. A característica principal é a verborragia. Pouco importa o conteúdo, o que importa é o contato permanente para manter acesa a chama…….. Faz parte da linguagem, a vestimenta, trejeitos, símbolos e slogans. A vestimenta do populista visa à identificação imediata com as massas. Repete sempre o mesmo traje, como se estivesse sem tempo para trocá-lo. A ideia e mostrar para os dominados o desapego a bens materiais, a modéstia e a disponibilidade de todo tempo para o cumprimento de sua missão.
Invoca ainda o ensinamento de Enrique Krauze, quando afirma “o populista não só usa e abusa da palavra: ele se apropria dela. A palavra é o veículo específico de seu carisma. populista se sente o intérprete supremo da verdade geral e também a agência de notícias do povo. Fala com o povo de modo constante, incita as paixões, ilumina o caminho e faz isso sem restrições nem intermediários. “
Do meu tempo, me recordo de Jânio Quadros, exemplo típico de um populista, em sua campanha para Presidente da República, se apresentava sempre com um terno preto surrado, com camisa social amarrotada e gravata desajustada, sempre com a barba a ser feita e com um sanduiche de mortadela no bolso, que era consumido em intervalos por ele mesmo adredemente fixados durante sua fala. E foi eleito com o símbolo de uma vassoura que vibrava se referindo a uma limpeza a ser feita nos costumes políticos do país. A questão, no entanto, é que a maioria parlamentar era de oposição, o que exigiria do Presidente uma conduta política preciosa que não foi demonstrada no curso do processo.
A própria formação do seu Ministério demonstrava sua tendência real de gestão que se distanciava de sua pregação. Chanceler: Afonso Arinos udenista tradicional. Educação: Brígido Tinoco; Industria e Comercio: Arthur Bernardes Filho (conservador), Fazenda: Clemente Mariani (politico e empresário), Saúde; Catete Pinheiro (político conservador) Aeronáutica: Brigadeiro Grum Moss; Guerra: General Odilio Denys e Marinha Silvio Heck (todos da linha dura das Forças Armadas) Minas e Energia: João Agripino (UDN) e Transportes: Clovis Pestana (PSD).
O seu Governo durou oito meses, o que significa dizer que não dá para enganar nessa matéria.
Por isso é de suma importância a definição prévia e clara de sua condição: estadista ou populista. Desejar duas situações não dá certo.
Há um outro aspecto a ser considerado no que tange à conduta no exercício do cargo. Refiro-me à liturgia. O governante estadista cumpre e exige o cumprimento do cerimonial. Quando muito, atendendo a uma necessidade casual abre uma exceção e libera o costume.
Já o populista tem verdadeira compulsão para quebrar o cerimonial, para se mostrar como um igual.Valendo-me, novamente à uma colocação de Evaldo Feitosa diz ele:
“A autoridade populista adora quebrar o cerimonial. Inverte a ordem, a quebra do protocolo vira norma. Com fim específico e destinatário certo. A finalidade é mostrar que continua sendo povo. Igual à massa popular. O destino certo, é a manchete na mídia de plantão. No outro dia todos os jornais estamparão o protocolo quebrado. “
Daí, a exaltação.
O importante é não confundir: Nem sempre o populista atende plenamente a classe trabalhadora, os mais necessitados, e os mais desvalidos e nem sempre o estadista só atende a classe dominadora. São questões diferentes quando se trata de gestão e política pública.
Faço esse registro para externar a minha preocupação com os nos dias atuais quando vejo uma forte tendência para a adoção do viés populista nas atitudes do mandatário, embora reconheça que a gestão pública esteja em consonância com o desenvolvimento do país.
No entanto há um pormenor a ser bem definido nessa questão para que não seja considerado populismo tudo que não nos interessa.
Já estava terminado essas considerações quando surgiu o episódio da alta dos combustíveis e a substituição do comando da Petrobrás.
De pronto, assistimos uma série de impropérios contra o Presidente, além de taxar a sua atuação como populismo, estelionato eleitoral etc. Tudo pelo seu desejo de substituir o Presidente da estatal.
Ele pode ter errado na condução do processo, no que tange à comunicação social, mas afirmar que essa sua determinação vai quebrar a empresa é ir longe demais. Eu não me permito entender que a salvação da Petrobrás está única e exclusivamente nas mãos do Senhor Castelo Branco, ou seja, lá quem for.
O nome por ele escolhido, é uma prerrogativa do Presidente da República escolher os dirigentes das estatais, foi do General de Exército Luna, e Silva, que tem uma história de gestão não só como militar Chefiando o Ministério da Defesa como civil na Presidência da Itaipu Binacional cuja atuação ficoumarcada pela excelência de resultados. No entanto vejo na imprensa a denuncia de ter sido indicado uma pessoa que não é do ramo.
Pergunto então, o que é ser do ramo para presidir essa empresa? Tem que ser petroleiro?
O certo é que o Senhor Castelo Branco, um excelente administrador e master em finanças, não tinha essa qualificação, e, portanto, não era do ramo, como também e igualmente foi Pedro Parente, Ernesto Geisel, Adhemar de Queirós e mais cerca de nove oficiais generais com bom desempenho, e não me recordo de uma revolução no mercado financeiro quando foram nomeados. Mas, não me proponho imaginar se o Presidente Bolsonaro tivesse indicado um economista francês como Henri Philippe Reischestul nomeado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, sem nenhum alarde.
O desejo do Presidente e de todos nós é que os preços praticados no mercado do combustível no país sejam pelo menos razoáveis, o que não acontece no momento.
A formula simplista de ficar sentado na poltrona esperando os preços internacionais e o câmbio serem estabelecidos para automaticamente repassar para o consumidor é bastante cômoda e não exige nenhuma expertise do dirigente.
O Presidente sabe que tem que garantir a rentabilidade da empresa, preservando os interesses dos investidores, mas deseja que soluções criativas sejam adotadas para garantir um equilíbrio do mercado sem afetar negativamente a economia.
A cultura da tributação fácil no combustível é histórica com um efeito desastroso no preço.
Recordo-me quando o propósito era o de garantir um bom desempenho na utilização do carvão mineral. Foi então criado o Pró-carvão (com recursos vindos de um adicional ao preço dos combustíveis. Depois veio a CIDE (contribuição de intervenção no domínio econômico) e por aí uma série de penduricalhos.
O fato é que o combustível a partir da extração do petróleo tem um longo caminho a percorrer até chegar ao consumidor e nesse caminho tem uma série de obstáculos a transpor, sem falar no atravessador que tem uma forte presença principalmente no comercio do gás liquefeito.
Vamos esperar e com certeza alcançar os nossos objetivos, mas vamos deixar o Presidente trabalhar pois os desafios são grandes e não será através de fakes e outras tertúlias que as soluções chegarão.
Excelentes as matérias postadas