PIQUE

Uma das brincadeiras de criança mais corriqueiras do meu tempo era o pique,sob várias formas, que hoje talvez já não exista mais em face da era da informática em que o brinquedo infantil foi ocupado pelos celulares que já são guardados à noite, embaixo do travesseiro. Mas, nem tudo está perdido. Há dias,  por exemplo, pudemos assistir o governo federal e o estadual de São Paulo, brincando de pique para comunicar a chegada da vacina nacional.

O governador João Dória preparou um grande evento para comunicar a vacina denominada Butanvac genuinamente brasileira já em fase de registro na Anvisa e com programação de fabricação em maio ou junho.

Logo em seguida o Ministro da Ciência e Tecnologia Marcos Pontes, além de comemorar a chegada da Butanvac, vem à televisão para informar a respeito de uma vacina fabricada na Faculdade de Ribeirão Preto. O imunizante está sendo desenvolvido pelo pesquisador Célio Lopes Silva, professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto, em parceria com as empresas Farmacore Biotecnologia e PDS Biotechnology Corporation.

É verdade que, no ano passado esse mesmo Ministro anunciou que haviam estudos bem adiantados para a fabricação do IFA aqui no Brasil, para evitar a dependência que temos para a fabricação dos imunizantes no país, justamente pela falta do insumo que é importado da Índia ou da China.

À noite a Rede Globo repercute matéria postada na Folha de São Paulo referente a uma declaração de um pesquisador de uma faculdade americana segundo a qual a tecnologia dessa Butanvac , era de sua propriedade e que havia um contrato de parceria entre eles e o Laboratório Butantan. O Instituto divulga uma nota afirmando a veracidade da notícia, mas ao mesmo tempo afirmando que a vacina será fabricada no Brasil e que é brasileira.

E essa questão passou a ocupar grande parte do Jornal falado, que em nenhum momento destacou a importância da comunicação, para o país, porque o principal era a divergência, o essencial era poder provar que o Butantan, com toda sua história e respeito por sua capacidade de produzir vacinas, andava prevaricando com a omissão sobre o titular da tecnologia que estaria sendo utilizada.

 Além disso a Fiocruz informa que está desenvolvendo estudos em torno de quatro imunizantes, dois com tecnologia exclusivamente brasileira e outra duas com parcerias americanas. Afinal, são laboratórios brasileiros em condições de desenvolver a produção de imunizantes sem se preocupar de quem é a tecnologia aplicada, igualmente no que tange as demais em experiência no mundo. Graças a Deus existe essa ânsia pela descoberta de novas vacinas, não pelo interesse de se mostrar como sendo o “dono da bola”, mas pelas perspectivas de salvar o mundo dessa tormenta.

Ora, temos hoje, à disposição da sociedade, um sem número de vacinas e soros fabricados pelo Butantan e Fiocruz, como a da gripe, do sarampo, tuberculose, pneumonia e tantas outras que são tomadas sem a preocupação de discutir qual a nacionalidade do titular da tecnologia. Mas o que se deseja é politizar o tema.

Agora, empresários estão em campo em busca de autorização para adquirir vacinas para a imunização de seus funcionários sem ter que entrega-las ao SUS, enfrentando barreiras inclusive por parte de parlamentares. Sinceramente não encontrei até agora argumentos válidos para essa proibição. São brasileiros, na linha de frente da economia, que precisam ser imunizados e, em sendo, estarão saindo da demanda sobre o SUS. Se são cinquenta milhões de doses, são cinquenta milhões de pessoas vacinadas sem recursos públicos, permitindo que o Governo possa conduzir o PNI sem contar com essas atendidas pelos empresários. A argumentação de que os atendidos são privilegiados em face da capacidade econômica de seus empregadores é uma falácia meramente politica e demagógica. Se cada vacina custa ao Governo, segundo informam, US$ 10 dólares, no mínimo, por dose, serão três bilhões de reais de recursos públicos que deixarão de ser gastos. É uma conta que não fecha. É uma matemática às avessas. Que Deus nos ajude que um maior numero de empresários surjam com essa proposta permitindo que os recursos públicos possam ser utilizados em outras demandas. Se vamos seguir esses raciocínios ou clubes sociais e recreativos terão que ser fechados porque são privativos de seus sócios.

 O fato é que ao invés de se especializar em agendas negativas os meios de comunicações e nisso incluo as redes sociais deveriam se dispor a divulgar notícias positivas.

Ao invés da disseminação de milhares de idiotices postadas em blogs, Instagram, e sei lá mais o que, quem realmente tem um mínimo de senso de patriotismo, deveria nas suas disponibilidades compartilhar e divulgar notícias positivas levando esperança à nossa sofrida população entorpecida pelo caos nas redes hospitalares do país, pela proximidade com o status de miserabilidade, com a fome assombrando boa parte de nossa população.

Poucas pessoas sabem que no silêncio, uma centena de pesquisadores trabalha em prol da descoberta de imunizantes e medicamentos para enfrentar a pandemia. Como exemplo cito os estudos que estão sendo realizados na Universidade de São Paulo conforme divulgado pelo jornal daquela instituição e que me permito transcrever:‘

“ Para que um imunizante seja aprovado e esteja disponível no mercado, são necessários de dez a 15 anos de muita pesquisa e vários testes. A aprovação para uso emergencial das duas vacinas disponíveis foi feita em tempo recorde, mas ainda é possível que os imunizantes passem por melhorias. Autoridades, médicos e cientistas ressaltam a importância de termos um produto brasileiro com tecnologia 100% nacional, mesmo que isso demore anos. As razões vão desde a preocupação de que a covid-19 se torne uma doença sazonal até a dependência de importação de insumos, processo que atrasa a fabricação de vacinas no País. A USP é uma das instituições que assumiram o compromisso de desenvolver uma vacina do zero. São sete projetos em andamento nos vários campus da Universidade. A vacina em spray nasal do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina (FMUSP); a vacina nanoparticulada da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP); a vacina vetorizada da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA); as quatro plataformas vacinais em ensaios pré-clínicos do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB): a nanovacina, a vacina de subunidades, e as vacinas de DNA e de RNA. As duas primeiras são as que se encontram em fase avançada. O grupo que desenvolve a vacina em spray nasal deve iniciar os testes toxicológicos em breve. Já a nanoparticulada, da FMRP, aguarda a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os ensaios clínicos de fase 1 e 2. “

A nossa realidade é muito diferente das manchetes dos jornais.

Excelentes as matérias postadas

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