CRISES

A palavra mais utilizada, hoje, no nosso país, é “ Crise”.

Para tudo o que aconteça ou venha a acontecer anuncia-se que há uma crise.

Se falta um produto na prateleira do supermercado, o miolo do acém no açougue, se diminui a oferta de ovos, da carne de frango ou de porco, o anuncio é que há crise no abastecimento.

Só não há realmente é falta de boateiros, fofoqueiros, titulares de fake News cujo qualificativo direto eu desconheço, e que já mereciam receber o castigo apropriado pelo desserviço que prestam.

Um dia desses fiquei indignado assistindo um desses telejornais, apresentado por um profissional que, ao divulgar a fala do novo Ministro da Saúde a respeito da meta de vacinar um milhão de pessoas diariamente, preferiu lançar dúvida sobre a viabilidade do projeto ao invés de destacar o avanço do combate ao coronavírus. E fez de forma grosseira, chegando a taxa-lo de mentiroso e embusteiro. Qual o objetivo? E agora, que a vacinação já alcança o número de setecentas mil unidades diárias, o referido não se presta a divulgar com a mesma ênfase o sucesso da ação governamental.

Um projeto de lei é aprovado pelo Congresso, vai à sanção presidencial, e após a avaliação do Executivo merece vetos parciais ou total, a manchete é “O Presidente afronta o Congresso”. Se o veto é rejeitado pelo Congresso a manchete é “Derrota de Bolsonaro”. Ora, nem há afronta e nem derrota, quando esses atos são praticados por força da competência de cada um. E a repercussão é de crise.

O Governador do Distrito Federal, que profissionalmente é um experiente advogado, ao tomar uma medida de combate à pandemia, restringindo o funcionamento do comércio ou mesmo a possibilidade de aglomeração nas madrugadas, evidentemente analisa os aspectos jurídicos da sua medida ajustada aos termos constitucionais ou jurídicos.

Em face de um recurso uma juíza federal defere um pedido de suspensão do Decreto editado.  A manchete é “Justiça enquadra Ibanês”.  O GDF recorre da decisão e a Desembargadora Federal Ângela Catão, com muita propriedade suspende a decisão de 1º instância sob o argumento de que o judiciário não pode interferir em atos próprios da administração, e não pode mesmo, a manchete é “TRF1 beneficia Ibanes”.

Ora, nem a Juiza enquadrou o Governador e nem a desembargadora o beneficiou. São atos praticados com base no ordenamento jurídico nacional.

O Presidente da República no âmbito de sua competência decide substituir o Ministro da Defesa e os Comandantes das Forças Armadas.

Foi um verdadeiro pagode de opiniões sobre os motivos da movimentação. Tentativa de golpe, interferência do Presidente nas Forças Armadas. As manchetes carreadas de artifícios em busca de argumentos para justificar um conflito que estará por vir, e a abertura de uma Crise na área militar, e que, estaria havendo o pedido de exoneração pelos então comandantes como protesto pelas demissões do Ministro da Defesa. E para enfeitar mais o bolo vinha a declaração, citando inclusive fontes militares, bombástica, do inédito, sob o argumento de que nunca teria ocorrido tal fato na história recente do país.

Ora, o Presidente Itamar Franco demitiu o Ministro Chefe do Estado maior das Forças Armadas (não existia Ministério da Defesa) os três Ministros Militares, Chefe do SNI, tudo numa canetada só e ninguém ficou alardeando crise militar por esse motivo. Eu, que estive nos três lados da moeda, no Executivo, Legislativo  e no Exército sei que essas operações são absolutamente normais e se engana completamente quem espera rupturas institucionais decorrentes desses atos.

Não é a substituição de um comandante militar que determina uma mudança radical na filosofia da caserna. O respeito à constituição e às leis são decorrentes da própria formação ideológica do militar. Por isso em várias unidades militares há uma inscrição impossível de não ser vista e bem compreendida: Tudo Pela Pátria (TPP). Quem pretender interpretar diferentemente que pague para ver.

Agora, um fato que serve para aumentar o acervo da FBAPá ( Festival de Besteiras que assola o país – Stanislaw Ponte Preta) é uma ação de partidos políticos acusando o Presidente de Crime de Responsabilidade porque demitiu os referidos militares sem dar satisfação. É de matar de rir, uma imbecilidade dessa natureza.

Getulio Vargas em seu curto governo de 1952 a1954 teve três ministros: Estilac Leal, Cyro do Espírito Santo Cardoso e Zenóbio da Costa; Jango de 1961 a 1963; Segadas Viana,Nelson de Melo, Amaury Kruel e Jair Dantas Ribeiro; Geisel de 1974 a 1979 teve três, Dale Coutinho, Sylvio Frota e Fernando Bethlem. Quando da demissão de Sylvio Frota houve uma tentativa de resistência de sua parte apoiado por seu grupo, o que motivou o alarde de grave crise. Presidente se manteve na mesma posição e ainda prendeu os envolvidos.

E cá estamos nós sem nenhuma história de crise militar motivada pela substituição de ministros ou comandante das Forças Armadas, principalmente da Defesa que é um cargo político de natureza civil.

Um detalhe no presente caso são as vivandeiras de plantão dando explicações que não foram dadas por quem de direito, como a “verdade dos fatos” de que a demissão do General Pujol tinha com a motivação a entrevista dada pelo General Paulo Sérgio ao Correio Braziliense, aliá de primorosa qualidade, mostrando o trabalho desenvolvido no Exército e que resultou no belo enfrentamento à pandemia na caserna.

O escolhido pelo Presidente Bolsonaro para assumir o Comando do Exército veio a ser exatamente o mesmo General Paulo Sérgio.

Mais uma vez a conta não fecha.

E quanto aos boateiros  e fofoqueiros realmente eu não tenho esperança de que eles deixem de existir. Desde o Império Romano eles já povoavam os Palácios e os Templos. Cícero, no Senado denunciava Lucio Sergio Catillina, político falido que usava de todos os recursos possíveis e impossíveis conspirando para obter riquezas e poder. É uma herança maldita que transita por todos os anos da história da humanidade.

O importante, nessa hora, em que enfrentamos isso sim, a maior tragédia de todos os tempos, independente da escolha politico partidária, possamos nos unir em prol da preservação da vida e da ressureição do país. Caso contrário, nem é bom pesquisar, as consequências serão incomensuráveis.

4 comentários em “CRISES

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  1. Excelente texto, Hargreaves, sobre essas crises diárias criadas pelos boateiros, redes sociais e, principalmente, pela grande imprensa. Extrapolou o limite de paciência, muita gente nem lê mais jornais e o noticiário da TV só destaca os mortos da COVID. Cansou. Gostei de ver sua citação das vivandeiras, remete ao texto do Presidente Castello Branco sobre agitação no meio militar. Aguardamos os próximos textos de seu blog. Abraços

    1. Obrigado Ivan. Ainda agora estou vendo a capa de uma revista com a seguinte Manchete: “Generais enquadram capitão”. Qual o objetivo? Informar não é, pois a impropriedade está no próprio texto. Espero com muita força que ninguém se preste a responder dando vitrine a quem não merece.

  2. Quanta verdade! Que mal que esses mal brasileiros fazem ao Brasil! Parabéns pela sua análise inteligente e oportuna !

Excelentes as matérias postadas

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