Dediquei toda a manhã de hoje para entender o que o nosso país está vivendo e em que direção estamos sendo levados.
Ouvi a poucos dias o Presidente Jair Bolsonaro alertar: “não abusem da paciência do povo brasileiro.”
Concordo plenamente com esse desabafo, embora sejamos levados a questionar o que está configurado como esse abuso de paciência.
Ele, Presidente referia-se aos isolamentos, que na sua concepção é mais prejudicial que benéfico. Eu e muitos outros entendemos diferentemente, pois se a ciência mostra e exige o isolamento, o que se esperava é que os responsáveis pela condução dos nossos destinos encontrassem uma fórmula capaz de atender aos protocolos da medicina e a preservação da economia. Portanto a palavra de ordem não deveria ser a demonização do fechamento nem a sua liberação desmedida.
E em face dessa dicotomia, assistimos uma batalha verbal e uma série de confrontos, envolvendo até mesmo a determinação constitucional de harmonia entre os Poderes para no final não levar a nada.
O fato é que estamos assistindo uma pandemia descontrolada, até mesmo por razões diversas da responsabilidade do governo, mas com uma conotação política desnecessária, prejudicial e desmedida que traz mais malefício que benefício à população.
No momento que a união de esforços cada vez mais se torna necessária o que vemos é justamente o contrário, descambando para uma disputa que envolve todo o tipo de conotação que vai da política, das negociatas, e de muitos outros interesses totalmente divorciados à saúde e a vida dos brasileiros.
Hoje o foco maior é a Pandemia e o centro das atenções é a vacinação e suas derivações como o estoque e o Plano de imunização.
O Governo divulga quase que diariamente notícias dando conta dos contratos de aquisição firmados com os Laboratórios Astrazenica, Coronavac, Pfizer, Johnson & Johnson, e em fase de apuração os fabricantes da Sputinik V dentre outras, e o status da fabricação dos imunizantes pelo Instituto Butantã e Fiocruz, com as respectivas quantidades e prazos de entrega.
No entanto essa divulgação é compartilhada pelos meios de comunicação com mensagens negativas ao invés de promover um ambiente de euforia pelas conquistas obtidas.
Mas o que mais nos incomoda é o posicionamento que fazem nos colocando no centro de um picadeiro, pasmos com os espetáculos que nos são oferecidos.
Ainda sobre as vacinas vimos um movimento conduzido por vários governadores de Estado no sentido de adquirir a Sputinik V, de fabricação russa, mesmo antes da aprovação da ANVISA para utilização no país, chegando a acionar o Supremo Tribunal Federal para atingir esse objetivo. E, claro, como sói acontecer, o Senhor Ministro Lewandowiski, celeremente determina um prazo para a autorização ser concedida.
Honestamente não consigo entender que competência tem o referido magistrado ou qualquer outro para decidir essa questão, principalmente levando-se em conta a sua ilegitimidade perante uma conotação técnica biológica.
O resultado dessa paródia é que a Agencia em face da ausência de informações importantíssimas para a sua análise, culminou com o envio de técnicos ao país soviético a fim de verificar in loco as condições da fabricação do imunizante e os laudos decorrentes dos testes realizados, retornando com avaliações negativas, não só pela ausência de explicações por parte das autoridades russas como também da negativa de acesso aos laboratórios, o que não causa surpresa até mesmo aos turistas normalmente submetidos a um roteiro de tutela nas visitas feitas àquele país.
E agora, senhor Ministro e senhores Governadores, o Governo vai ser obrigado a liberar a vacina para ser aplicada aos brasileiros mesmo sem comprovação técnica de sua eficácia e de sua qualidade?
A alegação imediata é de que outros países já a utilizam sem problemas, mas isso não é de nossa conta e as consequências que podem ocorrer serão no nosso solo. E bem em tempo o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Universidade de São Paulo nos lembra que a talidomida indicada para enjoo na gravidez nos anos 50 foi proibida unicamente pelos Estados Unidos e aprovada pela Europa e pelo Brasil. As mórbidas consequências de pessoas que nasceram mutiladas são bastante conhecidas. O importante é a qualidade da avaliação e não o número de aprovações.
O fato é que se aos outros países pressupõe-se que todas as informações exigidas foram prestadas, o contrário ocorreu com a Anvisa em que o Instituto Gamaleya responsável pela fabricação do imunizante ao invés de cumprir com as exigências prefere atacar a nossa Agência insinuando influencia do governo norte americano.
Vale destacar que as vacinas utilizadas no Brasil são de origem chinesa e britânica e a Pfizer, alemã, ainda está para chegar e antes disso a exemplo das demais teve que cumprir com os mesmos protocolos.
O que mais nos amedrontam são as reações dos governadores e de parlamentares atacando a ANVISA, quando deveriam estar apoiando as cautelas de caráter científico em benefício da nossa população.
O mais importante é se conscientizar que a ANVISA não proibiu a importação da vacina e nem atestou sua ineficácia, apenas declarou que com os dados que lhe foram fornecidos não tem condições de aprovar. Portanto ao invés de pressionar a nossa Agencia os interessados devem pressionar o Instituto Gamaleya para fornecer os dados exigidos.
Em 30 de março passado foi liberada a análise, para o uso emergencial dessa vacina, de uma certificação de boas práticas de fabricação do imunizante, como sendo uma pré-etapa antes do pedido de uso emergencial.
Ficou bem claro e expresso que esse documento seria necessário para obtenção do registro de medicamentos biológicos, e que não haveria possibilidade de qualquer concessão sem comprovar que as empresas cumprem com as boas práticas necessárias para assegurar a qualidade, eficácia e segurança dos medicamentos. Tudo isso em face da omissão de dados por parte do referido laboratório.
Agora, conforme relatei acima, após a inspeção “in loco” e com a falta de informações exigidas, foi dada a decisão, que não tem nenhuma conotação política, conforme foi expresso em audiência extraordinária na Câmara dos Deputados por Gustavo Mendes, gerente geral de medicamentos e produtos biológicos da agência: “Verificamos a presença de adenovírus replicante em todos os lotes. Isso é uma não-conformidade grave e está em desacordo com o desenvolvimento de qualquer vacina de vetor viral. A presença de um adenovírus pode ter impacto na nossa segurança quando utilizamos a vacina”
Portanto, estamos à beira de duas decisões:
O Instituto Gamaleya apresenta à Anvisa os dados necessários para uma análise positiva para sua utilização, nos mesmos termos exigidos e cumpridos, para as vacinas Coronavac, Astrazenica, Pfizer, Johnson e outra mais, ou por força de determinações por parte do Congresso ou do Excelso Supremo Tribunal Federal seja determinada a utilização do imunizante na população brasileira sem a concordância da Agência e as consequências sejam suportadas pelos responsáveis diretos.
O fato é que a reação dos fabricantes e autoridades russas perante o episódio foi bastante negativa e pouco recomendável por parte de quem deseja participar de um Plano Nacional de Vacinação no nosso país.
Seria muito interessante que os zelosos membros da CPI da Covid 19 se pronunciassem a respeito, e, enquanto isso continuamos na corda bamba, e, com a exaustão da paciência.
Artigo lúcido e esclarecedor, sem paixões políticas. Precisamos de uma imprensa que inforame e não que nos atordoe com desinformaçoes ideológicas.
Parabéns ao autor.
Obrigado
Dr. Hargreaves, esse presidente (com letra minúscula) é que abusa da paciência do povo. As notícias alvissareiras sobre as vacinas não são celebradas porque o próprio p minúsculo faz questão de fazer campanha contra elas. Gostaria eu que tivéssemos no comando de nosso país pessoas como o senhor e o ex-Presidente Itamar em um momento como esse. Infelizmente, o atual não tem a capacidade política nem intelectual de vocês. Acredito no seu exercício intelectual para defendê-lo, mas discordo muito, e respeitosamente, de suas palavras.
Mais uma vez obrigado pela sua presença. Quanto à sua discordância é salutar, mas eu gostaria de ressalvar que esse texto é bem direcionado à defesa da vacina e contrário à politização do tema. Não faço defesa de ninguem. E claro, que o amigo não discorda da defesa da vacina. Quanto ao resto tudo bem..