Após um longo e tenebroso inverno, volto à lide numa avaliação retrospectiva dos fatos que rodeiam os nossos dias.
Tivemos um segundo semestre do ano passado, cansativo em termos de comunicação política fixado em CPI do Covid 19 e “supostas” crises fabricadas em decorrência de falas impensadas do Presidente da República insistindo na provocação e no costumeiro bate boca em especial com a mídia nacional, o que, convenhamos não é cabível como atitude de um Chefe da Nação (perdoe-me o necessário cacófato).
Votei em Jair Bolsonaro e poderia voltar a sufragar o seu nome na pretensa reeleição, embora esteja cada vez mais difícil cumprir esse desejo, pois ao que tudo indica, anda dispensando votos ou até mesmo desistindo da continuidade de seu mandato.
O que fundamentou minha escolha foram, principalmente, a crença na sua honestidade, mostrar-se ser bastante voluntarioso, seus bons propósitos e vontade de mudar as distorções existentes principalmente no campo das relações entre Poderes.
Ocorre que, mesmo mantendo inalterados esses predicados, a sua predileção ao conflito, ao contrário da mediação exigida do Presidente da República, provoca grandes danos ao país, seja no campo social, político ou econômico.
Senão vejamos:
– a sua insistência em desconsiderar a pandemia como um terrível inimigo que se aproximava de modo incomensurável sobre nós, desprezando e atacando as práticas sanitárias determinadas pela ciência, e principalmente no que tange à vacinação.
Entretanto na prática garante o estoque de imunizantes capazes de consagrar o reconhecido prestígio mundial do nosso país no que se refere à capacidade de um programa nacional de vacinação.
Hoje temos mais de setenta por cento da população imunizada com a primeira dose, mais de sessenta por cento com imunização completa com a segunda dose e beirando trinta por cento com a terceira dose, de reforço e já iniciando a quarta dose ao grupo de maior risco. Em números absolutos é superior à soma da população de vários países da Europa reunidos. Ainda assim faz questão de publicamente se postar como um crítico do processo, incluindo a inexplicável campanha contra a vacinação infantil.
Hoje, vejo na imprensa a diretriz emanada pelo Comandante do Exército exigindo a imunização da tropa, necessária até mesmo para garantir a possibilidade de uma intervenção militar em apoio à vacinação no interior do país e na ação de combate ao crime organizado na selva amazônica. Em contrapartida, vemos o Comandante em Chefe das Forças Armadas, o Presidente da República, ao invés de se vangloriar pela ação do Comando do Exército, despeja um inconformismo inexplicável exigindo até mesmo retratação por parte daquela autoridade, como se estivesse agindo equivocadamente.
– O episódio recente relativo às enchentes principalmente na Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Espírito Santo, coincidiu com um seu período de descanso no litoral catarinense.
Em resposta às insistente provocações da mídia pelo fato de estar gozando das delicias de uma praia, deveria mostrar com números a extraordinária ação do Governo através principalmente do Ministro da Saúde, da Mulher e do Desenvolvimento Regional , das Cidades e da Infraestrutura naquelas áreas, sob sua direta coordenação, mas, ao contrário prefere discutir o mérito se exibindo em ações pirotécnicas em Jet-ski, lanchas, carros etc.. E, sempre, em todas as oportunidades se mostrar sem máscara e desmerecendo a eficácia das vacinas.
– A Anvisa, que sempre mereceu os maiores elogios, de sua parte, inclusive quando estabeleceu que nenhum imunizante seria aceito no país se não tivesse a aprovação dessa Agência, é violentamente atacada pelo fato de aprovar a vacinação em crianças, a exemplo do que já ocorre em vários grandes países no mundo, chegando a insinuar a existência de interesses inconfessáveis por essa decisão.
Não há argumento que justifique essa atitude e a consequência imediata foi a resposta do Presidente da ANVISA Almirante Barra Torres. Homem de uma dignidade incontestável que tem merecido o respeito da sociedade por sua atuação frente à Agência. Diz ele: “Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso à frente da Anvisa. Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa, aliás sobre qualquer pessoa que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar. Agora se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate. Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente. Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário.”
Não ví ainda, mas não vai faltar um bajulador para taxar o Almirante de comunista para agradar o seu ídolo.
E o Ministro da Saúde, anuncia a chegada de um estoque de milhões de doses da vacina infantil produzidas pela Pfizer. Há quem diga que a série de entraves ocorridos nesse processo, como exigência de receita médica – um absurdo sem considerar a inexistência de médicos em grande parte dos rincões do país- assim como a ridícula consulta pública, tinha como motivo real a falta de recursos para a aquisição da vacina junto á Pfizer. Se é verdade melhor seria ter declarado essa circunstância, com nenhum desgaste.
Sem delongar mais, questionamos: Porque, tudo isso? Quem ganhou com isso?
Tivesse o Presidente assumido o Comando dessa batalha contra o “vírus maldito” com ações determinantes, respeitando as diretrizes cientificas estou certo de que hoje, não estaria amargando índices de rejeição alardeado pela mídia, verdadeiros ou não, mas que não existiriam sem o respaldo de suas atitudes.
Em minha caminhada da vida, principalmente depois de meu ingresso no Quadro Administrativo da Câmara dos Deputados por concurso público, tive oportunidade de conhecer personalidades políticas dos mais variados perfis e aprendi conviver com suas maneiras de agir, alguns com mais ou menos graus de egocentrismos, narcisismos e autoritarismos, assim como Chefes de Estado, com quem por várias circunstâncias estive próximo.
Cada qual com seu estilo, mas, em sua maioria respeitando os seus próprios limites. A principal conscientização que se pode exigir é a de saber separar a Pessoa Física da Pessoa Jurídica, apesar de na prática, ambas estejam envolvendo o mesmo indivíduo.
É que, não havendo essa separação as consequências podem ser terríveis, pois a pessoa física, naturalmente é imbuída de alto grau personalista inconcebível na pessoa jurídica que tem sobre sí, uma responsabilidade muito maior e é obrigada a ter um voluntarismo muito menor.
A questão está no fato de como são as consequências de uma atitude errada da pessoa física com reflexo na pessoa jurídica e vice-versa.
Tivemos na história recente dois episódios políticos, impeachment de dois Presidentes, motivados pela ação da pessoa jurídica impulsionada pela inconsequência da pessoa física fazendo com que o Congresso afrontado praticasse, como de fato ocorreu, um verdadeiro golpe de Estado do Legislativo, pois, a motivação do impedimento nunca chegou a ser efetivamente demonstrada, tendo inclusive um deles sido, posteriormente, negada pelo Supremo Tribunal Federal.
Diante disso, tendo um bom estoque de ações do governo durante o seu mandato, inclusive no tocante ao combate à pandemia, que poderia estar exaustivamente propagado, tendo o respeito e o apoio das Forças Armadas, contando com grupo de apoiadores bastante significativo, o que leva o Presidente a manter um clima de crise constante motivado por sua ação de confronto com o Legislativo e com o Judiciário?
Ainda é tempo de rever o comportamento e tratar mais dos assuntos do governo e menos de firulas que não levam a nada, pois, no ano eleitoral é fundamental mostrar do que é capaz para municiar o eleitor de informações para a escolha do destino de seu voto.
Hoje, pelo que é oferecido pela mídia temos uma dezena de candidatos a Presidente da República das mais variadas matizes conforme abaixo descrito:
– Dado como favorável, já foi testado e deixado um triste histórico;
– Ficha limpa com capacidade de gestão, mas sem controle emocional e politicamente desastrado;
– Sem histórico de gestão especialista em condenação e odiado pela esquerda e pela direita;
– Já tendo sido governador e ministro de estado, testado nas urnas em vários pleitos com capacidade de gestão, mas, sem poder de agregar;
– Já testado administrativamente como governador, mas, até o momento sem conseguir agregar dentro do próprio partido;
– Uma lista de aventureiros, sem possibilidade de êxito por falta de densidade eleitoral.
Ou seja, um enorme ingrediente de desesperança para o povo que almeja um país melhor, mais justo e progressista e que além de lutar contra as pandemias ainda está ameaçado de ter que combater a fome e a miséria, diante de uma classe política inerte e descomprometida.
Com já foi dito ainda há tempo de uma reversão desse procedimento.
A economia, sofrendo as consequências do quadro que vivemos, incluindo os aportes do governo em programas sociais de emergência em face do desemprego e das ocorrências inesperadas, necessita mais que nunca de paz social e retomada da produção. Além disso é primordial a vinda de investidores que a cada momento se afugenta com as crises fabricadas principalmente no campo da política e dos confrontos desnecessários envolvendo órgãos do Judiciário propiciando a insegurança jurídica.
Por incrível que possa parecer a solução é muito mais próxima do que se imagina e muito dependente do comportamento do Presidente que deixando de lado as suas predileções belicosas e assumindo a postura de um legítimo Chefe de Estado, somado às suas qualidades pessoais, tornar-se-á invencível do seu projeto à reeleição até mesmo pela pouca qualidade de seus adversários até hoje listados.
A sua preferência em se comportar como Luiz XIV de França ( L’etat c’est moi ) ou parafraseando Santo Agostinho de Hipona ( Roma locuta est causa finita est), não tem respaldo na convivência democrática republicana e dificilmente lhe dará os frutos esperados. Ao invés disso é melhor se espelhar na sabedoria de Aristóteles ou Maquiavel de que o governo estável é duradouro e bom ao contrário do radicalismo muito presente entre os turiferários que procuram agradar para usufruir.
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Amigo Henrique
Maravilhoso texto
Marcelo Dias
marcelo.dias@cesa.com.br
31-99311-1472
Caro amigo, agradeço sua mensagem de apoio ao meu texto. Realmente o melhor seria se os fatos que o motivaram não existissem, para a nossa estabilidade social, econômica e política. Mas, quem sabe a prudência possa prevalecer não é? Aguardemos…