LUCROS

Para nosso deleite, temos à disposição as seguintes manchetes do dia:

“Os principais bancos lucraram R$ 96,2 bilhões em reais, quando somou R$ 90,5 bilhões em 2022. O valor corresponde a uma alta nominal de 6,3% em relação ao ano anterior.”

A curiosidade me fez buscar a planilha dos lucros no país:

  1. Petrobras: US$ 83,9 bilhões
  2. JBS: US$ 65,0 bilhões
  3. Vale: US$ 54,4 bilhões
  4. Itaú Unibanco Holding: US$ 36,0 bilhões
  5. Raizen: US$ 30,1 bilhões
  6. Banco do Brasil: US$ 29,5 bilhões
  7. Banco Bradesco: US$ 28,3 bilhões
  8. Ultrapar Participações: US$ 20,3 bilhões
  9. Braskem: US$ 19,6 bilhões
  10. Marfrig: US$ 15,8 bilhões

 Configurada a posição privilegiada dos bancos no rol dos mais lucrativos do país, vê-se que a atividade especulativa supera a atividade produtiva em muito, o que pela minha lógica não tem muito sentido.

Alguma coisa está errada.

Embora eu não tenha muita intimidade com o sistema financeiro ao ponto de poder analisá-lo com a profundeza que merece a questão, é bem certo e perceptível que não somente as altas transações permitem esse resultado.

O que eu quero dizer é que as operações microeconômicas também são grandes fornecedores da matéria prima necessária para tal performance.

Alguns exemplos da ciranda que cerca a relação multiplicada pelos vinte e quatro milhões de correntistas de um só banco, mostra de onde sai tanto dinheiro.

Atuei em um processo em que a Caixa Econômica Federal tinha um contrato de financiamento habitacional, cujo mutuário em dificuldades tornou-se inadimplente em suas prestações, atingindo um débito de R$ 30.000,00. Diante disso o estabelecimento bancário se apropriou do imóvel, na forma prevista e o levou a leilão público arrecadando  importância  superior a duzentos mil reais.

Ora, sem mesmo ser necessária uma lei para determinar que nesse caso ela deveria devolver para o mutuário a diferença de R$ 170.000,00, sob pena de se apropriar indebitamente, e constituir um enriquecimento ilícito, o Banco simplesmente silenciou e ficou com esse troco.

Tempos passados, com o falecimento do contratante sua viúva procurou se informar e os irresponsáveis  representantes da Caixa Econômica Federal, aquela que gasta milhões de propagandas se auto intitulando de ” o seu Banco” com um lucro de 90 bilhões de reais, sem nenhuma cerimônia responderam que ela deveria ter reclamado no prazo de três meses, e que não o fazendo perdeu a oportunidade de reaver o seu dinheiro e que , além disso prescrevia o direito porque a lei diz que são de três anos o tempo para reclamar de  enriquecimento sem justa causa. Ou seja, para alcançar a prescrição justificam alegando que roubaram…

Mas o fato é que tive êxito na ação e mesmo no cumprimento da sentença foi vergonhoso o comportamento do Jurídico da Caixa deixando de cumprir prazos, desrespeitando as ordens judiciais e tudo mais.

De outra feita recebi uma intimação para pagar R$ 30.000,00 à Caixa. Surpreso porque não tenho nenhuma relação com esse Banco, fui a uma agência e busquei falar com um dos Gerentes… Atendido relatei o problema, depois de 45 minutos de espera veio a explicação mais estapafúrdia que eu já tive conhecimento.

Diz o Senhor Gerente, com aquela voz pastosa de autoridade pedagógica, dando-me aula dos procedimentos bancários para me dizer que:

“O senhor tem uma conta na Caixa, que senhor não movimenta, há 30  anos, e como o senhor não a fechou , nós podemos cobrar uma tarifa mensal. Como não havia saldo positivo fomos debitando em sua conta até atingir R$ 25.000,00. Resolvemos então abrir um Cheque Especial em seu nome para cobrir esse debito e quando atingiu o valor do contrato de R$30.000,00 , sem pagamento, mandamos para o protesto,

Muito bem, em suma: criaram um débito que para ser pago levantaram um empréstimo na Caixa para pagar a própria Caixa às minhas custas.

Se não é comedia é bastante trágico. É lógico que eu não paguei e para isso já havia uma solução para os casos de quem não quis fazer papel de idiota: Lançam contabilmente como  prejuízo da Caixa.

E com a voz bem suave ainda me perguntam se eu não desejaria voltar a movimentar uma conta com eles.

Minha mãe me ensinou que eu não devo falar o palavrão que eu pensei em desferir…

Mas isso é procedimento usual no sistema bancário nacional.

Se for aguçar sua curiosidade basta entrar no Google e colocar o nome da Caixa Econômica Federal e outros congêneres e verá a quantidade imensa de processos por exorbitância de juros contratuais, e casos como eu relatei e, sem qualquer constrangimento. Ao contrário, sentem-se muito bem na condição de Réus.

Um conhecido meu , diretor de um banco de renome,  me disse, em resposta a uma indagação que isso não os abala porque no Brasil somente 2% de correntistas agem contra o Banco e  assim eles,  mesmo sem ter razão,  ganham 98%.

Eu retruquei: Isso é ético?

Respondeu: o sistema, meu caro é aético….

9 comentários em “LUCROS

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      1. Grande ministro . Quem não agradece não merece o favor que recebeu. Mais uma vez meu muito obrigado. Amigo é aquele que acolhe com ética , sem nada esperar em troca. Devo-lhe meu retorno a vida pública . Após sua ajuda não perdi mais nenhuma. Mas finalmente não mais concorri. 999553311 . Salve ,sempre estarei a sua total disposição .

  1. Esse é o sentimento de todo brasileiro, com o mínimo de conhecimento das determinações bancárias e as absurdas taxas que cobram !Parabens , nosso brilhante Ministro!

  2. Muito oportuna essa publicação, Henrique, ótima! Tive também uma experiência similar à sua da Caixa, mas com o Banco do Brasil: atrasamos algumas parcelas de financiamento e eles foram quitando através de aumento do limite do cheque especial, à juros abusivos. Posteriormente, quando a dívida dobrava trimestralmente, fizemos um acordo com o banco via advogado e pagamos o principal. Nunca mais lidamos com esse banco, mesmo após oferecer linha de crédito

    1. Pois é.. Já alguem disse que se banco fosse uma coisa boa deveria se chamar sofá…Mas que é uma questão séria não há duvida principalmente por se tratar de uma questão social. Só como lembrete diz o texto constitucional ” Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram. (Redação da EC 40/2003″

  3. pois e…E,com golpes em whatsapp e Pix tambem se isentam de responsabilidade.Continuam abrindo contas fantasmas para os “bandidos”. viverem disto.

    1. Mas o que é mais importante é que deixam o pobre do correntista por conta desses vigaristas. O Banco informa que prefere pagar o prejuizo que houver ao invés de manter um serviço de segurança eficaz. E o dano moral das vitimas???? Não estão nem aí….

Excelentes as matérias postadas

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