MAS, AFINAL QUANTAS PESSOAS FORAM ÁS MANIFESTAÇÕES?

Pela atualidade do tema não posso deixar de transcrever o texto abaixo divulgado pelo meu filho Luiz Henrique Horta Hargreaves no site ” Administradores” diretamente de Orlando (Fl. USA):

Os números são discrepantes. Quantas pessoas de fato foram às manifestações contra o governo em 16/08? Este número é realmente importante?

Há mais de cem anos, existe a preocupação em se saber quantas pessoas cabem dentro de um determinado local. É uma questão de segurança. Em razão da superlotação, diversas tragédias foram conhecidas ao longo dos anos.

Este cálculo é bem simples de ser feito. Mede-se a área e sabemos que para cada metro quadrado, cabe uma pessoa, de forma razoavelmente confortável. Assim sabemos quantos ingressos por exemplo, podem ser vendidos para um evento, sem colocar em risco a segurança das pessoas. Este número deve estar de acordo com as saídas de emergência. Para sabermos quantas pessoas lá estiveram, utilizam-se catracas que registram cada vez que alguém entra.

Em eventos abertos, o cálculo segue o mesmo princípio.

Em frente ao prédio do Congresso Nacional em Brasília, por exemplo, há cerca de 20.000 metros quadrados no chamado “gramadão”, que é o espaço existente entre as duas pistas laterais e delimitado pelo “laguinho” na parte da frente e pela “rua das bandeiras” na parte de trás. Desta forma, estando este local, lotado, mas de tal forma, que as pessoas possam circular, teremos em torno de 20.000 pessoas. No outro extremo, com o local cheio a ponto de impedir que as pessoas circulem, no que poderíamos chamar de superlotação, teríamos 80.000 pessoas. Sim, não cabem mais que quatro pessoas em um metro quadrado. Se duvidam, façam o teste em casa. Ocorre que em áreas públicas, quando se está próximo de termos quatro pessoas por metro quadrado, é natural que os manifestantes acabem ocupando as ruas acessórias e laterais, para poderem circular com um pouco mais de conforto.

Por que há tanta discrepância entre as avaliações da Polícia, dos Jornais e dos Organizadores, com referência ao número de pessoas presentes em manifestações?

Como já vimos, em locais abertos, esta avaliação acaba sendo bastante subjetiva e depende do olhar treinado de quem avalia e se estão sendo consideradas apenas as pessoas em uma determinada área ou se também nas regiões anexas.

Segundo dados que parecem ser oficiais, a Avenida Paulista tem 2,8 quilômetros de comprimento, por 28 metros de largura. Se estes dados estão corretos, então, estando este local cheio, mas permitindo uma boa circulação, teríamos em torno de 78.000 pessoas. Estando completamente lotado, estamos falando de cerca de 315.000 pessoas.

Podemos então afirmar que não é possível uma manifestação com mais de 300.000 pessoas na Paulista?

Aí, surgem as armadilhas deste número. Como já vimos, em qualquer evento muito cheio ao ar livre, as pessoas circulam pelas vias acessórias e laterais. Assim, estando a Paulista lotada, a ponto das pessoas não conseguirem andar direito, significa que as laterais e ruas acessórias também estão, pois não estão permitindo a vazão das pessoas e então poderíamos ter este número multiplicado por 2, 3 ou 4 vezes. Daí a importância da fotografia aérea.Com base nas imagens feitas de cima, podemos calcular toda área ocupada e não apenas a Paulista propriamente dita.

Existe ainda um outro elemento. Quando as pessoas estão em movimento continuado, elas vão deixando a avenida e dirigem-se para outros locais, o que significa que a Paulista lotada por várias horas, com pessoas caminhando, corresponde a um número significativamente maior de pessoas no local, pois embora aquele espaço continue com a capacidade de 300.000 pessoas, existe uma renovação de público e assim, pode-se ao final de um dia, terem sido registrados números muito acima destes observados. Para evitar que este efeito deixe de ser observado, o acompanhamento deve ser realizado de forma contínua e com uso de algumas técnicas específicas.

Os organizadores de qualquer evento sempre buscam apresentar números mais elevados para mostrar o maior grau de comparecimento possível.

Os jornais e institutos de pesquisa, dependendo de quem avalia, podem acrescentar um componente político e fazer a análise da forma como quiserem. Ou seja, neste caso da Paulista, podem simplesmente ignorar as vias acessórias ou laterais e limitar a análise a uma única tomada. Desta forma, fotografa-se uma única vez o local, e estando lotado, mas não a ponto de se afirmar que as pessoas não podem caminhar normalmente e chega-se fácil a um número de 130.000 pessoas.

A análise da Polícia também depende de diversos fatores. Quando a polícia anuncia previamente quantos policiais estarão nas ruas, a tendência será sempre a de jogar o número de manifestantes para baixo, para que não fique muito distante da relação entre o número de policiais e o de manifestantes e não ser acusada depois de não haver realizado o planejado de forma adequada. Quando não quer fazer tal avaliação, isto geralmente ocorre por razões políticas (o governador ou o prefeito não querem revelar quantas pessoas estavam protestando contra o governo), para não estimular novas manifestações ou por não ter efetivo suficiente. Estamos falando de uma forma geral.

Quanto menor o número de manifestantes ou da área ocupada, mais precisa é esta análise.

Em grandes manifestações ao ar livre, não é possível se comparar pequenas variações entre um evento e outro, com grande grau de confiabilidade. Não é possível afirmar que em abril havia 130.000 pessoas na Paulista e agora 135.000 pessoas. Como calcular a entrada de mais 5.000 pessoas em um espaço de quase 80.000 metros quadrados, apenas visualmente? O que muitas vezes ocorre, é que o observador percebe que havia mais pessoas no evento atual e acaba acrescentando mais um pouco.

Quantas pessoas então, havia na Paulista? Muita gente. O número preciso para este tipo de evento é irrelevante, pois se somarmos todas manifestações ocorridas no país e sobretudo se analisarmos o que vem ocorrendo desde Junho de 2013, seguramente, temos presenciado as maiores manifestações da história do Brasil. Muito mais que as passeatas dos 100 mil em 1968 no Rio de Janeiro, mais do que a Marcha da Família em 1964, mais do que o Impeachment do Collor e mais do que as Diretas Já.

Poucos países possuem manifestações com um número tão expressivo de pessoas. E quando isto acontece, os governantes colocam suas “barbas de molho” e buscam não apenas entender o que está acontencendo, mas soluções urgentes.

Alguém realmente acredita que apenas os que lá compareceram, estão descontentes ou protestando?

Para quem analisa estes números, corre-se o risco imediato de achar que 1 milhão ou 2 milhões de pessoas representam apenas cerca de 1% da população brasileira e que a maioria não se manifestou. Grande equívoco. As manifestações são uma demonstração de descontentamento. Aliadas a baixa popularidade da governante e o número expressivo de reações negativas contra o governo nas redes sociais, não há nada a ser comemorado e nem contemporizado por quem governa o país.

Cabe ao governo buscar formas de lidar com a crise. Não acreditar que existe uma crise profunda, não é medida de solução, mas de agravamento. Não é possível crer que tudo está sob controle e que o descontentamento é passageiro. Não é. O momento é de deixar um pouco mais de lado os manuais de Marketing e passar a empregar com mais empenho, os de Governança e os de Gestão de Crises.

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