SAUDOSAS LEMBRANÇAS

Para amenizar esse ambiente pesado da pandemia e das confusões politicas vou me permitir republicar algumas passagens da minha infância e pré-adolescência.

Reminiscências são ao mesmo tempo um bálsamo na alma e um peso no coração.

É a hora que revivemos os bons e menos bons momentos de nossa vida.

Por isso  disse George Bernard Show que “ “Reminiscências fazem alguém sentir-se deliciosamente maduro e triste.,  e

Fernando Pessoa no sentido de que “ O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.

Quem de nós não tem uma lembrança, uma experiência de vida para relatar?

Eu, por exemplo, nascido em Juiz de Fora, cursando o Jardim da Infância e primário no Instituto Santos Anjos das Irmãs Carmelitas, aprendi boas maneiras, disciplina, socialização e ainda uma iniciação religiosa.

De tantas passagens para relembrar cito duas peraltices ocorridas no âmbito da Capela do colégio e da Catedral da cidade.

Eu e meu irmão Roberto fazíamos a dupla de coroinhas do colégio e nos portavam com toda a imponência relativa ao cargo. Daí passamos a nos permitir exibições de técnica. Em uma celebração da Benção do Santíssimo meu irmão portando o turíbulo (o equipamento usado para a queima do incenso composto da caçamba e suportado por três correntes que se unem em uma argola que é presa pelas mãos do executor), resolveu dar uma demonstração e rodou várias vezes o equipamento, no sentido vertical, mas sem o conhecimento necessário fez com quer voasse brasa por todo o recinto, principalmente nos colos das freiras que sentavam na primeira fila.

Mas, com a ternura daquelas irmãs, em especial da Diretora, Irmã Clotilde, a única reação foi um gesto de negação com a cabeça esboçando um leve sorriso no canto da boca.

No meu caso, estando na fila da primeira comunhão me distraí e fiquei acompanhando o compasso da música que era cantada balançando uma vela acesa que todos portavam nas mãos, quando inesperadamente ouvi o grito da colega que ia na minha frente com o véu que usava na cabeça pegando fogo. Eram as “ artes “ do nosso tempo.

E outra tantas que se fossem contadas seriam tidas como sem nenhuma graça ou importância em face dos nossos dias atuais, com o advento dos smarts, zaps, games em que as brincadeiras envolvem a simulação de arrancar a cabeça do outro etc.

E nesse tempo, tendo estudado na Academia do Comércio dirigida por padres alemães, paguei o pão que o diabo amassou em face das minhas “ baguncinhas inocentes como a descoberta de um alçapão de um porão que se situava justamente embaixo da minha sala de aula e abrigava uma adega de vinhos. Não é difícil advinhar o resultado dessa história…O problema é que nessa época não havia muito diálogo para resolver essas questões, pois prevalecia a prática do puxão de orelha, do coco na cabeça e em casos extremos uma boa bolacha… experimentei todas as alternativas. Mas, são boas as lembranças desse tempo.

Morávamos em um apartamento no 11° andar e a placa indicativa de andares no elevador era no sentido vertical em uma só linha. Aos dez anos de idade eu não alcançava o ultimo botão o que me obrigava a me contentar com o limite alcançável do 7° pavimento tendo que seguir a pé pela escada até chegar em casa.

O síndico, general do exército reformado, duro na queda especialmente na tolerância com as nossas diabruras, pagou um preço por sua postura marcial.

Chegava ao lobby do prédio com sua imponência típica foi surpreendido pela nossa gentileza (eu e um vizinho) que abrimos a porta do elevador dando preferência para que ele entrasse (o que era realmente inusitado). O seu apartamento ficava no 7° andar e nós dois marcamos para descer no 6°. Descemos nesse andar e ao fechar a porta jogamos uma “ bombinha cabeça de nego” que embora não fosse destruidora tinha um estrondo muito forte em ambiente fechado.  Fiquei trancado em casa por uma semana…

Ah! Bons tempos…

Lembro-me com carinho e muita saudade as idas para a Igreja com minha avó, assistir as bênçãos do Santíssimo, onde aprendi a cantar todas as músicas sacras, incluindo o Tantum Ergo, em latim e como era hilária a luta de meu pai, que ia nos buscar, para conseguir convencer que era hora de ir embora porque os padres tinham que fechar as portas do templo.

Hoje, sinto saudades e lamento pelas atuais gerações que não terão estórias para contar porque não puderam constituir uma história em sua infância e sua adolescência já se confundiu com a maturidade. Dificilmente a criança teve a experiência de jogar futebol com o pai e pular corda com a mãe ou mesmo viajar em férias em face da nova condição de vida com os compromissos de trabalho dos genitores que nem sempre coincidem com os recessos dos filhos. Por outro lado, em casa, a televisão passou a concorrer com os filhos e os tablets e celulares a concorrer com os pais.

Mas, mesmo assim, torço para que não sintam um vazio em suas lembranças e tenham alguma coisa a recordar.

 

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