Como não poderia deixar de ser, houve uma grande expectativa em torno do discurso do Presidente Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas e as repercussões já se fazem presentes, cada qual com o seu ponto de vista e na maioria das vezes de uma impressionante parcialidade.
Surpreendo-me com a dificuldade que vemos, em especial nas mídias nacional e internacional, além de especialistas, para elaborar uma análise honesta, real e despreconceituada dos fatos.
Ouvi atentamente o discurso e enquanto memorizava as palavras do Presidente procurava setorizar os temas a fim de ter uma visão pormenorizada para ao final entender melhor os seus objetivos e endereçamento e, diga-se de passagem, sem nenhuma dificuldade, face a simplicidade, a moderação e a racionalidade de sua fala.
Não faltou uma virgula do que, no meu entendimento, deveria ter sido dito. Inicialmente justificou o seu posicionamento ideológico citando fatos desastrosos dos governos pretensos socialistas referindo-se ao Programa Mais Médicos coordenado pelo governo Cubano pelo qual os supostos médicos eram verdadeiros escravos, uma vez que eram mandados para cá, deixando sua família como garantia e os seus salários eram divididos com o governo da ilha na desmedida proporção de setenta por cento. Aproveitou o “ gancho” para relatar que através de programas dito sociais Cuba infiltrou agentes em outros países da América do Sul, como na Venezuela em um número bastante expressivo de sessenta mil milicianos.
Falou sobre a situação do povo indígena, inclusive levando o testemunho de uma índia de certa liderança entre as diversas etnias e de forma triunfal exclamou ter chegado ao fim o reinado do cacique Raoni que na sua opinião é um manipulado por vários países com interesses não confessados. É claro que imediatamente surgiram as contestações, inclusive nos jornais televisivos,em que o apresentador se queixa dessa referência a esse cacique, dito por ele como sendo um Líder respeitado e querido por todas as tribos, além de tentar desqualificar a liderança da índia Ysani Kolapalo pelo fato de ser civilizada, usando, para essa pichação, um posicionamento de uma “ representante” das tribos do Xingu que não diz ao que veio e por quem veio. É espantosa a glorificação em torno de Raoni, que cheguei a conhecer pessoalmente quando ocupei a Chefia da Casa Civil da Presidência da Republica. Destituído do cargo de cacique dos caiapós-txucarramães por Tutu Pompo, por obra e graça do destino pegando carona com o cantor Sting, Raoni percorreu o mundo e chegou a ser recebido por alguns dos mais poderosos políticos do planeta e conseguiu, segundo dizem, atenção e dinheiro para a causa indígena no Xingu e na Amazônia, administrados por uma ONG ( Foret Vierge) presidida por ele . O fato é que até hoje vive em viagens que eu, pessoalmente, talvez até por ignorância, não sei por conta de quem. A Fundação Darcy Ribeiro propõe para ele o prêmio Nobel da Paz, o que convenhamos é demais. Não pretendo desmerecer o trabalho desse cacique em prol da sua causa, mas igualmente, apesar de sua postura quase caricata Mário Juruna, que chegou a ser deputado federal, teve uma participação mais eficiente para a causa indígena e com menor orquestração.
Bolsonaro falou do Meio ambiente, mostrando os problemas naturais que temos anualmente e a luta do governo na região, ao mesmo tempo em que nesse tema mostra os interesses espúrios praticados pelos “ defensores” da mata e defende a questão da soberania que deve ser o nosso carro chefe. Interessante o desejo de setores bem identificados em descarregar nas costas do seu governo todas as mazelas da Amazônia, incluindo as questões climáticas de longa história.
Gostei da fala do Presidente e o aplaudo de pé.
As críticas surgidas daqui e acolá, pouco importam e se forem analisadas profundamente nada oferecem, se apertar não sai nada. De um lado “ especialistas” e do outro lado diplomatas aposentados com um escopo puramente corporativo. Reclamam do discurso, taxando de inapropriado e outros achando que foi grosseiro, mas ninguém diz claramente o que gostaria de ouvir. De nada adiantaria, no meu entender um discurso nos moldes do agrado dos diplomatas, recheado de Prosopopeias flácidas para acalentar bovinos (conversa mole para boi dormir) e citações ontológicas sem nenhuma consequência prática em benefício dos nossos interesses. É necessário atualizar os conceitos para observar que o interesse dos investidores e da política global está mais direcionado aos resultados e não nas dialéticas, por isso foi sim, mais estadista do que os outros no momento em que diz claramente o que deseja e o que pode oferecer.
Dizem alguns diplomatas que o discurso de Bolsonaro foi o pior de todos os seus antecessores. Revendo os anais vamos encontrar Collor restrito ao compromisso do país em direitos humanos e não proliferação de armas nucleares. No discurso de FHC o Brasil passa a falar, pela primeira vez, em mudanças climáticas. “A proteção do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável são desafios inadiáveis de nosso tempo. A marcha das alterações climáticas é um fato cientificamente estabelecido” Lula deu grande enfoque em dizer que o Brasil era exemplo de desenvolvimento social, com a adoção de programas de transferência de renda como o Bolsa Família.
“No Brasil, estamos instaurando um novo modelo capaz de conjugar estabilidade econômica e inclusão social. As negociações comerciais não são um fim em si mesmo. Devem servir à promoção do desenvolvimento e à superação da pobreza. O comércio internacional deve ser um instrumento não só de criação, mas de distribuição de riqueza”. Dilma na ONU dedicou seu discurso a uma questão recém-revelada na época. Na ocasião, havia sido divulgada a notícia de que o governo americano espionou correspondências do governo brasileiro. Temer acabou decidindo usar parte de seu discurso na ONU para defender sua legitimidade no cargo. “O Brasil acaba de atravessar processo longo e complexo, regrado e conduzido pelo Congresso Nacional e pela Suprema Corte brasileira, que culminou em um impedimento. Tudo transcorreu dentro do mais absoluto respeito à ordem constitucional”dizendo ainda que o governo brasileiro havia tomado providências para proteger a floresta. Todos esses discursos foram amplamente aplaudidos pelo Corpo Diplomático e pela mídia especializada.
O meu entendimento é de que como retórica pode ter o seu valor, mas para obter resultados é nota abaixo de zero.
Bolsonaro direcionou suas palavras com dureza, mas com muita urbanidade e se aproximou muito ao famoso discurso de Cícero no Senado romano:
“Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?
Quam diu etiam furor iste tuus eludet?
Quem ad finem sese effrenata iactabit audacia”
(Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?
Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?
A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?)”
Respeito muito todas opiniões, mas nesse caso prefiro ficar com a minha.
Também adorei o discurso do presidente, acho que poucas vezes o vi tão sensato!
Cordial abraço,
Ainda bem que existem pessoas que pensam como vc.