Estamos vivendo, creio, mais uma das muitas amargas experiências ocorridas em nossa história republicana, fatos de agosto de 1954 que culminaram com o suicídio do Presidente Vargas, da Renúncia de Jânio Quadros, queda de Jango e outras tantas.
Todas elas, no entanto eram dotadas de um enredo, que nos permitia entender o conteúdo, o que não ocorre no momento, em que as instituições republicanas são atacadas de forma inimagináveis, até mesmo por seus integrantes que de forma inédita agem sem compostura e sem respeito à sua liturgia.
Como se diz nos grotões de Minas Gerais, “vaca não está conhecendo bezerro e papagaio está chamando urubu de meu loiro”.
Eu votei nas eleições de 2018 para sufragar o nome de Jair Bolsonaro e poderia até votar novamente, considerando que reconheço a sua boa intenção e seriedade no trato da coisa pública, mas, não esperava que ele enveredasse pelo caminho do confronto constante que não acrescenta nada e por outro lado compromete a imagem de seu governo que tem agendas muito positivas totalmente desconhecidas da população que não tem acesso a essas informações.
Enquanto essas verborragias e discussões estéreis tomam conta do quotidiano o governo caminha célere buscando o desenvolvimento tão necessário para a grandeza do nosso país, em silêncio, já que não há divulgação do que é feito e o próprio Presidente deveria estar ocupando o seu espaço mostrando aos brasileiros o que de bom está acontecendo. Caso contrário parece que estamos vivendo um caos administrativo, o que não corresponde à realidade e temos bastante números para isso demonstrar.
Mas, infelizmente vemos uma desorganização total.
Vou começar pelo Supremo Tribunal Federal.
Se no Exame do ENEM for incluída uma questão com nomes de ilustres brasileiros que tenham sido Ministros da mais alta Corte de Justiça do país, sem constar dos atuais, dificilmente algum candidato indicará corretamente, porque por mais famosos que fossem não passeavam pela mídia como hoje presenciamos, que se tornam figuras fáceis e o pior, discutindo questões referentes a processos em tramitação. Ou seja, sem nenhuma compostura.
Quando os Ministros Moreira Alves, Oscar Dias Corrêa, Celio Borja, Paulo Brossard entre tantos tão ilustres, presidindo o TSE se prestavam a ficar trocando farpas pela imprensa e confrontando com o Presidente da República e menos ainda percorrer os corredores do Congresso a fim de cabalar apoio a questões processuais?
E esses mesmos e mais Neri da Silveira, Clovis Ramalhete, Alfredo Buzaid, Aliomar Baleeiro,Prado Kelly, Adauto Lucio Cardoso Ministros do STF quando se permitiram a uma inadequada presença pública?
Até agora estamos apenas destacando a postura pessoal dos magistrados. Quanto às decisões tomadas, eivadas de conteúdo político, apaga a luz do túnel que a população sempre vislumbrou esperançosa do que deveria ser.
Decisões que, por sua relevância, deveriam ser proferidas pelo Plenário da Corte, são exaradas de forma monocrática e com forte componente político, e muitas das vezes com um exacerbado cunho de idiossincrasia pessoal.
Em 2013 postei uma pergunta: O que faliu? A Política, os Partidos ou os Políticos?
Em 2015 reformulei a mesma indagação, uma vez que nada mudava.
E hoje, 2021, está tudo na mesma.
Leio hoje uma crônica de um colunista que cita o desacerto entre os Poderes da União e apresenta uma série de fatores que causam essa anomalia democrática.
“Passo então a relembrar os meus tempos iniciais de convivência com a realidade política do país, nos idos de 1962, na Brasília empoeirada, canteiro de obras, a Esplanada sendo erguida e esbeltos se mostravam o Palácio do Congresso Nacional tendo à sua esquerda o Planalto e à sua direita o Supremo Tribunal Federal.
Nessa época, um parlamentar se destacava por si só. Era reconhecido nas ruas e reverenciado em sinal de respeito pelo que representava. Era o que legislava e fiscalizava os atos do Executivo com desvelo e verdadeiro amor à causa pública. De acusações de maus feitos contra um deputado, não me lembro. Aliás, para não dizer que não havia cassações de parlamentares, salvo no período do governo militar, houve sim, no Governo do Presidente Dutra o afastamento dos comunistas e também do Deputado Barreto Pinto, por decoro porque publicou fotos tiradas no final de semana no Plenário do Palácio Tiradentes, no Rio de Janeiro, vestindo cueca, fraque e cartola.
Um Juiz de Direito, assim como um promotor, eram quase, apesar do exagero da comparação, um símbolo divino, acima de tudo, do bem e do mal. Mas, por isso mesmo não se conhecia denuncia de venda de sentenças, prevaricação e outras “cositas” mais. Um ministro de um Tribunal Superior então, nem pensar e só aparecia pelas fotos ou na passagem pelas ruas em direção à Corte à qual pertenciam. Mas, por isso mesmo, não viviam em matérias jornalísticas discutindo questões relativas a processos em tramitação. E muito menos emitindo palpites de caráter político e menos ainda dirigindo xingamentos contra seus pares.
Membros do Tribunal de Contas, nem eram conhecidos, limitando-se ao cumprimento de suas funções técnicas como órgão auxiliar do Congresso Nacional, a quem caberia a análise política da matéria. Sobre esses também nunca se conheceu qualquer tipo de indicação de improbidade. Mas também não apareciam na imprensa antecipando julgamentos dos feitos ou emitindo juízo de valor sobre as matérias com avaliações políticas sem ter legitimidade para isso.
O Presidente da República, raramente se manifestava, a não ser discursando em solenidades, ou em pronunciamento oficial da Agencia Nacional e como autoridade máxima do país, merecia o respeito até mesmo dos políticos oposicionistas que apesar de com ele não concordar mantinham a postura condizente com a dignidade do seu cargo.
Hoje, vemos o contrário de tudo isso. Ninguém respeita ninguém e nem a si próprio. É com pena que vejo nessa operação Lava jato, dirigentes das maiores empresas do país, a maior parte de idade avançada, sendo conduzidos, algemados, com toda uma história de vida desmoralizada.
E o país para onde caminha? As grandes empresas geradoras de riquezas, empregos, serviços públicos, emparedadas em função dos erros de seus dirigentes. Dir-se-á, mas por causa delas as obras não têm que parar, existe outras. Ocorre que a tecnologia de ponta está nas mãos delas, nem todos tem competência para certos níveis de obras.
E o número de desempregados cresce assustadoramente, a convulsão social se aproxima cada vez mais célere e os políticos, a quem cabe em última instância garantir o funcionamento desse gigante, os aliados do governo disputam nomeações e liberação de verbas e os da oposição jogam para a plateia torcendo pelo fracasso, sem pensar um só minuto do descalabro que pode infernizar a Nação.
Já vi e convivi com muitas crises, mas, sempre com um naco de esperança, pois cheio de alternativas.
Hoje, só rezando ….”
Um quadro bem delineado e realista e vai chegar a hora que Deus não estará mais à disposição de socorrer uma humanidade que consegue juntar das disputas da idade da pedra à devassidão do Império Romano.
Gosto muito de suas crônicas, todas com a propriedade de quem sabe das coisas. Espero que tenha enganado na comparação da situação política com os eventos citados, prezado amigo Henrique, para o bem do país. Será tão grave? Mas, hoje talvez a solução para o país seja isso mesmo…rezar. Pois em quem acreditar? Quem irá trazer esperanças de um novo tempo para a retomada do desenvolvimento pleno, recomposição dos quadros universitários, pacificação política e melhor convivência entre os poderes da República? Não vejo ninguém assim no horizonte, mas lembro da frase do Magalhães Pinto que a política é como as nuvens, cada vez que olhar será diferente. Grande abraço e parabéns pelos textos do blog!
Caro Ivan. Obrigado pelo comentário. Não é que eu queira que seja assim, e nem estamos ainda vivendo o mesmo quadro das situações citadas, mas estou alertando que a falta de Lideranças poderá nos levar a isto. Hoje não temos um Lider que possa levantar a mão para dar um direcionamento, em nenhum dos Poderes. Na política então, nem se fala. Em um texto postado há uns dois anos eu citava a teoria da Psicologia das massas. Hoje eu vejo surgindo a cada dia alguns itens que não agradam. Que Deus nos ajude. abraços
Ei, Henrique, tudo bem, Aqui é a Andréa Horta, prima de Juiz de Fora. Estou agora acompanhando seu blog e, apesar de não compartilhar de suas posições políticas atuais, admiro demais sua trajetória e suas percepções. Gostaria de escutar sua opinião sobre esse tema, já que hoje faço parte de um grupo de pesquisa no CNPq sobre violência doméstica e esse assunto surgiu no nosso grupo. Se fizer sentido pra vc, gostaria de ver vc falando sobre essa notícia. Bjs pra Lena e “meninos”
https://www.viomundo.com.br/voce-escreve/vexame-na-onu-brasil-se-une-a-qatar-e-afeganistao-em-votacao-contra-direitos-das-mulheres.html
Abs
Oi Andréa, é com muita satisfação recebê-la por aqui, especialmente por se tratar de pessoa estudiosa e participativa
em questões de interesse social como a relativa à violência doméstica. Ao contrário da sua afirmação de não compartilhar com minhas posições políticas atuais, poderemos sim, ter muita convergência de opiniões considerando que eu procuro analisar as matérias sem conotação pessoal e na verdade, atualmente, não exerço atividade politico-partidária, o que me permite uma isenção necessária a um analista. Quanto à sua proposta de falarmos sobre ” a violência doméstica ” muito me agrada e principalmente sobre essa noticia, da qual já estou me inteirando em outras fontes, além do link sugerido para ter uma visão mais ampla da questão. Mais uma vez agradeço sua presença que espero ser a primeira de muitas. Abs
EXCELENTE…materia pra reflexao..apesar de triste realidade.
Oi irmã. O problema maior é a aparente falta de perspectiva.
Só Resando! Porém, apesar do respeito … Discordo de uma pequena parte. Temos um Presidente que luta e preza pela Constituição, pela Liberdade, pela Soberania e pela Ordem e Progresso. Que é atacado diuturnamente por todos aqueles que almejam o caus e a volta da corrupção e dos previlegios. A verborragia do nosso Presidente não nos apetece, pois estamos cansados dos de fala mansa. E por acreditar nele e em nossa Nação Brasileira que seguimos em frente com o Brasil acima de tudo e Deus acima de todos! Grande Abraço, Stefano
Caro Stefano, a discordância não importa em desrespeito, ademais a nossa amizade supera tudo isso. Quanto às suas observações vc verá que no meu texto eu deixo claro que acredito na boa intenção e o trato da coisa pública por parte do Presidente. Apenas, entendo que a linha de confronto usada só serve para dar espaço para esses que o atacam que nada teriam a dizer se ao invés dele responder no mesmo tom, fizesse apresentação das realizações do seu governo. Eu já tive oportunidade em outro post de lembrar da celebre frase preferida de Ibrahim Sued : ” Os cães ladram e a caravana passa..”. Ok? Sempre amigo…